quinta-feira, 31 de julho de 2025

AH MORTO

para elfried jelinek, com alegria e sorrisos!


Ah, morto! — sim, já sou antes do túmulo!

Pois vivo em carne sem volúpia ou cio,

um escriba estéril no meu próprio frio,

fantasma em fúria num presépio húmulo.


Na solidão do quarto onde me esfúmulo,

sonho ser Deus, ou ser apenas um rio...

Mas sou papel — sem tinta, amor ou brio —

um sopro escroto num divino acúmulo.


Não tenho sexo! — tenho pena e pranto,

e a mão que escreve é só rumor e espanto

de um verbo morto que ninguém conjuga.


Deus! Por que me deixaste assim, em vão,

com o coração roendo a própria cova

e a alma escura — como a Tua — muda?





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