terça-feira, 24 de junho de 2025

Ela e ele

 — Você escreve?

— Tento.
— Poemas?
— Sim.
— E o que escreve?
— Coisas que ninguém quer ouvir.
— Como eu?
— Não. Você é mais real do que qualquer poema.

Ela riu, puxou o cigarro, tragou lento.
— Eu vendo meu corpo. Você vendendo palavras.
— Parece o mesmo.
— Só parece. Eu recebo o dinheiro na mão. Você espera o aplauso.
— O aplauso é ilusão. Você sabe disso.

Ela olhou para o quarto vazio, para a luz fria da rua.
— Então por que insiste?
— Porque só isso me salva da noite.
— A noite é nossa. A gente é que se vende para ela.

Ele ficou em silêncio.
Ela apagou o cigarro na cinza da cama.
— Vai tentar escrever alguma coisa hoje?
— Talvez. Se a vida deixar.

Ela sorriu.
— A vida nunca deixa.

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