— Você escreve?
— Tento.
— Poemas?
— Sim.
— E o que escreve?
— Coisas que ninguém quer ouvir.
— Como eu?
— Não. Você é mais real do que qualquer poema.
Ela riu, puxou o cigarro, tragou lento.
— Eu vendo meu corpo. Você vendendo palavras.
— Parece o mesmo.
— Só parece. Eu recebo o dinheiro na mão. Você espera o aplauso.
— O aplauso é ilusão. Você sabe disso.
Ela olhou para o quarto vazio, para a luz fria da rua.
— Então por que insiste?
— Porque só isso me salva da noite.
— A noite é nossa. A gente é que se vende para ela.
Ele ficou em silêncio.
Ela apagou o cigarro na cinza da cama.
— Vai tentar escrever alguma coisa hoje?
— Talvez. Se a vida deixar.
Ela sorriu.
— A vida nunca deixa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário