terça-feira, 25 de junho de 2024

A ESCADA ESCURA & outros poemas alheios

 

A ESCADA ESCURA
Igual ou semelhante 
parece a escada escura
a figura de um caracol
onde as pernas finas
do homem (ou mosquito?
descem para encontrar-se
de novo com a subida.
A escada é uma serpente,
a escada, claro, a escada,
a escada escura é um dragão,
ou a cauda de um dragão,
eu diria que é um dragão
escuro adormecido em
seu leito de muitos tesouros.
Olha, a escada subo, olha,
a escada desço, e mesmo assim,
a escada sem metafísica
paira entre mim e a paisagem
onde ruínas gregas adormecem
meu coração elevado de poeta,
mas veja só, o pégaso divino 
já não voa mais diante dessa
escada, escura escada, a escada escura,
sintoma de vida e de solidão,
onde adormece em vinhas um
enredado do que já foi um 
amoroso coração.


DIANTE DO VENTO UM QUESTÃO
No ventre do vento
Eis a asa de um cavalo divino
Galopando entre as nuvens
Perdidas de um cachimbo.
No ventre do vento.
Ó, quantos elfos tocaram
As trombetas em tempos
                                 [Antigos.
Eu caminho por essas ruas
Que não são minhas, no meio
De um povo que não é o meu.
No ventre do vento
Eis a saudação de uma voz
Constelada de espaços.
Deus, és tu quem fala
Através desse invisível passar?
Deus, porque esse mundo é
Tão terrível de se admirar?


NO CAMINHO ONDE PASSO
No caminho onde passo
Elfos com mantos brancos
Tocam uma trombeta.
Ó melodiosa magia,
Desperta meu coração
Desse inverno frio e triste.
O tamarindo distante
Ficou preso na memória.
Eis a cabeça de um gigante
Erguida entre os montes
E as distantes montanhas.
Tudo é sonho ou memória,
Tudo é esquecimento, 
Ou talvez mera lembrança.
No caminho onde passo
Elfos com mantos brancos
Tocam uma trombeta.


UMA VISÃO POÉTICA
Me esqueço de mim mesmo!
Ó filho meu, não nascido,
Ó verde musgo, que admirei.
Na minha cama medito indolente
Sobre a linda virgem que me esbofeteou,
E o velhinho que na noite de inverno
Um livro tristemente fechou.


O ENCONTRO NA NOITE 
Vem até mim, disse-me a fada,
E eu fui, com capa, bainha e espada.
Lá eu estava sem armadura
Diante de tão divina criatura.
E ela me beijou (e eu estava morto,
Como eu ressuscitei, óh Cordeiro?
E então, em um abraço de fogo 
A fada me esquentou e senti nos
Ossos o ardor do verdadeiro amor.
Vem até mim, disse-me a fada,
E suas grandes e morenas nádegas
Diante dos meus olhos ela rebolou.
E, como se eu fosse babilonico antigo,
Me cercou de seus seios dourados e
Endurecidos.
Ó, doce vida que tive e não mais terei.
Adeus, disse-me a fada, para sempre 
Partirei.


ROSA
Já vistes flor mais bela do que essa
Rubra flor que me aparece diante do céu azulado?
Quem dera eu soubesse
Que meu presente e meu passado
Eram apenas ecos antigos de um triste passo.
Sigo meu caminho vendo esse jardim
E a rosa segue meus olhos nesse céu azul.
Ó rosa, admiras a beleza da cauda do pavão?
Porque és tão bela, vermelha fruta, quem dera
Eu te dizer, óh rosa bela, que és a maçã perfeita e eterna.
Deixa teu rosto descansar nesse jardim,
A rosa e o espinho me ferem e me fazem sorrir. 


ELE LEVOU SOBRE SÍ NOSSAS DORES?
Amigo, que dor é essa
Que me molda o carácter
E me faz deleitar-me
Em gemidos tristes?
Ó, só existe a dor,
A dor eterna de Cristo
Que foi ferido.
E também estamos feridos!



QUESTÃO NOVA
Diante da janela se desprende
Uma imensa paisagem que já não me recordo.
Quem sou?, pergunto-me diante de um espelho
E vejo que sou aquele que já fui e já não sou.

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