Há um norte e há um sul.
Entre eles, os dois, estou eu
Parado como uma estátua nua.
E quanta beleza há no meu espírito, Senhor,
Porque tu o criaste!
Odeio quando me rodeiam como um leão, porque afinal:
Onde estará o meu sonho e o meu instinto se não no
Coração de vidro que trago no peito judeu?
Vem sol, ilumina o morto com suas unhas de tigre.
Vem noite, e deixa o ar mais puro como mil anjos
No meio da escuridão sem fim.
Só vou cantar por alguns instantes. E nada mais...
Tenho nas mãos mil pinturas e uma rosa crucificada;
No meio do tempo encontrei o outono.
Só nós dois tomamos chá naquela tarde enevoada.
Nunca tive preocupação. Hoje estou cheio de duendes e gnomos.
Lá fora o calor encontra os seios e as matrizes,
Dormem nos guetos líricas meretrizes e olhos de mil lobisomens
Espreitam as estrelas que choram suas cores brancas.
O amor é uma espada que arde os corações dos líricos amantes.
Eu e o ônibus somos um. Eu e as pessoas somos um.
Eu e o banheiro cheio de merda e mijo somos um.
Eu e o vento triste somos um. Eu e o ouro somos dois.
Eu e o barco dos marinheiros somos três.
Eu e a dança da morena no meio do escuro somos quatro.
Eu e a pintura angelical e abstrata somos cinco.
Eu e as coxas da amada somos seis.
Eu e as nádegas belas da linda violeta somos sete.
Eu e o sonhos somos oito.
E por isso carrego dez cruzes em forma de pássaro amarelo.
Vejo a rosa no jardim
E com ela me lembro do gafanhoto e do leão.
Do outro lado do rio está a estátua grega machucada nos joelhos.
A dama de cabelos loiros é a mais bela das feiticeiras do Norte.
Me ajoelho e oro porque tenho lágrimas de cebola no espírito.
Agora me vou, não porque o tempo me pede,
Não porque a areia do amor me cega os olhos.
Não porque quero e não quero aquilo que as ruas oferecem.
Apenas me vou porque tenho que ir. Tenho que ir.
E eu sei que tu e eu sabemos disso:
Há um norte e há um sul.
Entre eles, os dois, estou eu
Parado como uma estátua nua.
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