Abre-se as cortinas, e dois atores se põe um ao lado do outro. Apaga-se a luz e só se ilumina o rosto de um só ator, que começa a recitar em silêncio o seguinte texto:
Ator 1
Não sei quando eu nasci, não sei. Não sei quando eu morri. Não sei. Minha memória se perdeu em mim. Eu só sei que de nada sei. Quero sair daqui. (levanta a mão aos céus e diz) ó angústia dos inocentes, ó, como pode me ferir, eu que sou teu servo, divino, ó divindades agrestes, ó vida, ó miséria, como posso fazer o meu grito ser escutado do espaço sideral?
Ator 2
O universo é um grão de areia.
Ator 1
Não quero saber essas coisas. Me deixe em paz. Quero partir, quero ir pelo mundo, perdido, caminhar até as imóveis montanhas e lançar o meu ridículo grito até os abismos infinitos.
Ator 2
Pai, perdoai-o, ele não sabe o que diz.
Ator 1
Não sei. Não sei. A tua amizade já me fez sofrer muitas vezes, sê meu inimigo em nome dessa amizade.
Ator 2
Não posso. Você sabe muito bem que abelha atarefada não tem tempo para a tristeza.
Ator 1
Uma verdade que é dita com má intenção derrota todas as mentiras que possamos inventar. Você se recorda quando eu te disse isso?
Ator 2
Sim. Dentro do espelho e da espada. Quando a aurora incendiada de nadas nos atravessava os olhos como lâminas. E eu te respondi que a ave constrói o ninho; a aranha, a teia; o homem, a amizade.
Ator 1
Então sê meu inimigo em nome dessa amizade.
Ator 2
Não posso.
Ator 1
Como pode uma ave, nascida para a alegria ficar numa gaiola e cantar?
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