quinta-feira, 31 de outubro de 2019

a felicidade absoluta...

Como sei que amar a vida não é uma ilusão? Como sei que ao odiar a morte eu não sou como um homem que, tendo saído de casa na juventude, esqueceu o caminho de volta?
O homem ou a mulher sábia aceita a morte com equanimidade e, assim, alcança a felicidade absoluta.

Andei em inúmeras estradas



 Andei em inúmeras estradas e não perguntei o nome de nenhuma flor. Passei por pontes, árvores, caracóis e então, me vi petrificado no ringue dos sonhos, pensando em algo que não pude determinar se era sol ou flor.
 O sábio se questiona ao despertar perto de mim: Zhuangzi sonha ser borboleta ou a borboleta sonha ser Zhuangzi?

 Questão metafísica das mais difíceis, pois a  Borboleta poderia perguntar também ao Sábio chinês: era eu amarela ou vermelha? cravejada de rubis ou diamantes? esmeralda ou ouro? pérola ou o cheiro de uma rosa antiga, a qual os homens e o tempo não sabem mais nomear?

Ao que o pobre poeta sábio iria se perguntar: se sou esse velho sábio sonhando em ser uma borboleta, tenho que buscar lenha para aquecer o fogo do fogão onde irei cozinhar um belo guisado? tenho que me preocupar com a chuva que irá deixar mais belo e sereno o meu jardim de flores?

A lua na nossa frente

A lua na nossa frente
está na encruzilhada do sol,
diante do deserto sem fim e do mar
bravio de sons infinitos.

O sol cobre o céu,
 a areia persegue a estrada arenosa,
o mar é uma canção de muitas fúrias antigas.

Vi um homem em cujo cobertor azulado de marfim era mais quente do que
o céu ardente.
A sinagoga perto do meu biógrafo mostrava uma clareza de orações antigas.
A rosa rubra afasta das cabanas o sol como um ladrão de escarlates
pedras nas paredes.

A canção tem no seu destino a eternidade, onde há façanhas, reinos,
florestas e espadas árduas e antigas que a memória não pode esquecer
em momento algum.
Eu consegui ver na luz e no escuro um pôr do sol muçulmanizado e uma vila quieta
onde o céu estrelado recordava mágoas e alegrias antigas...

O pátio



Perdi na distância ausente de mil lembranças
a voz sincera e clara da rosa, da menina serena,
     e entre mil jardins sem nenhuma recordação,
olhei pátios sem luares, e bolsas sem moedas.

Por não ver o seu rosto no meu espelho, dei um grito,
senti-me pequeno, como um pássaro ferido,
     o pátio vazio apontava a eternidade,
e a chave abria uma porta que eu não me recordava.

E então, ao tentar fugir para outros bosques,
    me vi de fato lançado na imensa cidade,
e a vida rindo de minha face me perguntou:

- E então, poeta, encontraste o que perdeste?
     Não pude responder, pois chorava ao ver que
o pátio continha todos os mapas astrais de Deus.

De Tigres e Leões / conto



     Sonhei inúmeras noites com a figura felina, isso quando o Verão era mais quente que o Saara, e o inverno, mais frio que todos os Polos de gelo do globo terrestre. A figura do Leão foi a primeira que apareceu em minhas lembranças, como se a fúria da domável fera fosse um acaso qualquer. Lembro que o primeiro Leão que  me fascinou (e isso antes de gostar do Ouro ou do Diamante) era negro como uma escória. O que me deixou alegre foi ver suas tremulas jubas cinzentas ao vento. Eu não poderia dizer se na noite profunda das savanas africanas esse leão poderia ser encontrado pelo caçador nativo ou pelos olhos do invasor europeu.
    Por muitos dias o Leão me fascinou, e ficou sendo a figura ideal do meu exilio selvagem, porque a figura do Leão (macho e fêmea como o Criador determinou) estava como um espelho em meus olhos, e sempre que eu deitava cansado para não contar estrelas comecei a contar Leões. 
  As vezes ao ver tantas jubas encaracoladas de dourado, me supus sendo Daniel arremessado pelos ímpios idolatras do reino na cova dos Leões, e ali, ajoelhado ou deitado ou meditando entre mil especulações, estaria com o Anjo do Senhor, que por muita casualidade (ora, não existe nada na vida que aconteça por acaso), seria um anjo com rosto de Leão e com sete asas peludas como jubas.
 Com o passar do tempo a figura do Leão foi dando lugar ao fascínio dos Tigres, esse imenso animal selvagem dos confins da Ásia, capaz de esmagar o crânio com suas ferozes mandíbulas, ou esmagar um urso com suas patas.  
 Achei que o Verão estivesse muito quente quando o primeiro Tigre me perguntou o que eu estava fazendo naquele sonho.
- Eu estou muito cansado para dar uma resposta exata - respondi tristemente, sem que a minha voz fosse entendida pela fera - por isso vago nos sonhos, olhando Leões e Tigres.
 O Tigre entendeu que tudo o que eu pensava seria no fundo o eco do primeiro Leão que vi, e mesmo que eu pintasse um quadro exato com o dourado dos olhos dos Tigres, eu não seria capaz de descrever o êxito que sentia ao ver na arena romana a fera e a fera, Tigre e Leão, se digladiando, sem vencido, sem derrota.


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Vai



Vai, vem, traz a voz que quero ouvir
das águas da chuva ou do sol tenebroso
traz meus rancores e meus dons que vão
se esquecer entre nossas mãos pequenas.

Vamos, vem, carrega minha alma para
os montes, para as cidades ou para os
campos tão distantes, vai, vem, canta
comigo uma canção de dunas e rochas,

serafins acompanhados de violinos
pelo céu imóvel e prateado irão levando
asnos e jumentos como carros alegóricos
em nossas roupas de festins e chumbo grosso.

Dentro de meus olhos não terá nada:
nem lua, nem pranto.
Serei esquecido entre os gaviões e
ficarei alegre de ser o calendário das

raposas.

Nota



Só existe uma coisa
que os meus olhos querem
ver: VOCÊ!

Eu vou abrir




eu vou abrir
o meu coração
a todos vocês
e o que irão 
encontrar ali
não é surpresa

pois ali terá
um vaso de jasmins
e muitos caracóis
terá petróleo e anjos
sem asas em depressão
profunda

terá velas e animais
todos conversando
sobre o juízo final
terá espanto e sonhos

ali dentro terá
estrelas coloridas
como balões e herméticas
mensagens de automóveis
e é claro mensagens
de amor antigas que
os velhos guarda chuvas
não se recordam nem a 
poeira das aranhas no rio nilo

e tudo isso será aberto
numa carta
numa mensagem
num telegrama
no programa de tv
no ridículo na internet. 


Visão de um viajante



Ah essa cidade é suja, suja,
quem sabe isso seja apenas
um detalhe a mais na sua beleza?
Não é imponente essas ruas tão
esburacadas como um dente sem
cuidados.

Se você andar para o centro,
se for um bom cristão vai ter muito
o que fazer para entrar em ação:
bancos e catedrais se misturam
com o cotidiano mais pobre da
população, que dorme na rua,
que urina nas igrejas, que talvez
imagino, conversem com os pombos.

Veja a situação daquela praça:
está rodeada por nomes de judeus,
só que a cidade não tem nenhuma
sinagoga, então não podemos ir 
além da imaginação para ver que
a cidade não é a nova Jerusalém.

Para você que andou nessas ruas
estreitas e estranhas há de convir
comigo que aquele prédio horrível
é o pronto socorro, e que aquelas
mulheres que estavam conversando
eram travestis (a nossa vista é tão
embaraçada).

Carros, como sempre, de brinde
para enfeitar a cidade de fumaça.
O sol é tão quente e se você não
tem dinheiro não vai poder tomar
água.

O capitalismo é realmente horroroso,
mais a vida é tão estranha quanto
qualquer sistema inventado pelo homem.

Anotando, anotando no caderno
a visão que essa cidade passa para
os tralhadores cansados nos ônibus.

Esse é o paraíso que sonhávamos?
Que ilusão mais doce e salgada.
Melhor seria termos ficado em casa
mesmo que a alma tenha se enferrujado.

argélia



somente

    você

e

  mais

ninguém

argélia, mais ninguém, ouvistes?



só carrego
lembranças,
claro, que 
a vida irá 
apagar um dia
claro, assim
como o sol
as estrelas
claro, e onde
dormiu a eternidade?

não posso



não posso te esquecer, é verdade mais novo começo eu te sugiro e me sugiro para que nossos passos acompanhem as nuvens e nossos olhos não mais vivam de suspiros

Quem ama, não morre

- Quem ama, não morre. 
Quem morre para que os outros vivam, 
nunca desaparece. 
Renasce cada vez que é lembrado. 
Fica vivo na memória. 

sei




sei que não 
entendo
meu Deus
essas coisas
mais sei que
o melhor tu
fazes eu sei
que tu fazes
grandes coisas
eu sei que não
entendo sei meu Deus eu sei que não entendo

Eu diria



   Que esse silêncio
é claramente uma
tocha acesa.

Menorá



    Sete bracos de luzes que arcanjos de petróleo
carregam como nuvens pálidas de ouro maciço.
Entorno dessas contundentes tempestades pequenos
querubins dançam com arco e flechas prontos
para acertarem o coração manchado de esperança.

Sete bracos, e nada menos, nada menos, sete,
sete braços que cruzam sete olhos de lobos,
sete tetas de vacas, sete rolas de travecos,
sete vezes sete, sete nada menos, só sete.

    Em cada sete uma cidade destruída pelos babilônicos:
sete, nova york pálida de sujeira, nova york destruída
de delírios, são paulo, contundente víbora de grossos
prédios que prendem nossa respiração para não respirarmos
chamas de fogo, sete, nada menos, sete cidades que saltam.

E nessa iluminação toda a voz da azeitona 
cortando, cortando nossas mãos e o coração
feito um enfeite de natal, destruído a beira
de um rio de enxofre, onde não existe bons 
nem maus, só existem seres que sofrem.

Por isso sete bracos que vão como 
duas nuvens trombadas de relâmpagos,
o ar do vento que chora lágriminhas tristes
como se fossemos dois caracóis cruzando
       a rua para namorar.

Namorar sete vezes, sete, nada menos,
e cantaremos canções antigas, andaluzas,
e diremos que adamantina foi o nosso pão,
o nosso mel, e então descansaremos com

os olhos abatidos como as abelhas,
não por intuição, nem por vontade 
de gritar, chorar, morder a panela
       de pressão,

mas porque não devemos entender
nada que signifique religiosidade,
não com a vara da compreensão humana,
não com o ridículo das ilustrações.

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Eu me esqueci



Eu me esqueci por aí, em prédios imensos,
nas ruas escuras das prostitutas, nos bairros
sem nomes, nos seios das travestis, nas
imemoriáveis casas antigas, nos becos sem

saída, na chuva, no asfalto, na sujeira,
me esqueci como a peça de prata caida
no meio da guerra dos mouros, sim, me
esqueci para que meu nome sangrasse.

Eu me esqueci sem nome, sem angustia,
fui não sendo, deixei de ter amigos, me
abandonaram pelos altos condomínios,
trabalhando como um sapateiro maluco.

Eu me esqueci porque me esqueceram,
não achei as caixas dos gafanhotos,
nem os mapas dos judeus antigos,
não fui pela roda dos radanitas, e fiquei

perplexo quando no mediterrâneo
me pediram certidão de nascimento
para que eu habitasse o pó sem tijolo
e as águas salgadas do mar morto.  

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

mosquitaria



estamos na cidade das
moscas
ou somos as moscas
as mosquinhas nas sopas
vejam, prédios de moscas,
moscas conversando com
as baratas tontas,
moscas nas bostas,
nas águas, moscas,
botando ovos para germinarem
prédios (são humanas essas
moscas? reconhecem a fala,
as palavras, esse lento vinculo
que nos difere dos animais?)
e que religião possuem esses
animaiszinhos tão rápidos,
serão orientais que gostam
de lavar as mãos com rapidez,
ou são ocidentais planejando
baldes de guerras para ganharem
o cosmo do dinheiro hermético?
as moscas, vejam, somos uma,
centenas, milhares, pintamos,
e será que eu sou a mosca do raul
aquela que pousou na sopa
e pintou pra te apaixonar?

A chuva



Hoje amanheceu sem chuva
nos meus olhos feridos de
flechas lentas e antigas que
dormem no meu peito como
feridas egípcias e chagas israelitas.
Na verdade você se foi e eu me fui
e a chuva não veio até a minha porta
trazendo o seu nome de girassól
e eu não sorri em volta como uma pluma
porque o meu amor foi tingido por
uma tempestade sem pássaros,
como se as mãos divinas se esquecessem
de mim pelas portas das cidades,
e a minha miséria não foi ser mosca,
nem saber os dons das águas,
nem rimar pó com sol já que o
esquecimento era tudo o que eu
tinha para dizer para a tempestade
que estava se aproximando com
a pressa das montanhas.
A chuva caiu bem longe e eu não
sorri, e não tive ódio, e não cantei
cacidas, nem gazeis antigos dos mouros,
apenas abri meus braços esperando o vento
e me deixaram numa caixa como que se isso
se importasse e eu fosse ouvir o vinho ou a chegada
de Cristo pelas águas que desciam frias até meu corpo
sebastianizado de flechas amargas cheias de cobras
e tristes gafanhotos sem mel.
Então adormeci para despertar
cheio de ira e ninguém sabia quem eu era.
E ninguém chamou meu nome.
E ninguém quis entender que a
chuva é o que é porque somos o que somos.

Cacida da Flor Morena



Bel, olhos negros da cor do Mel,
Beleza do amor que vem da neve
E cai como a gota da chuva
Que vem do céu, Orvalho que
É uma dança, um rio, um mar,
Em ti meu porto seguro chora
Sentindo vontade de gritar
(É a alma em pétalas quebradas de amor).
Mas no teu corpo ferve
A chama vida e intensa que respira
E lentamente traz a lembrança
Das chamas de um arco-íris em uma lança
Onde está o seu nome Prateado de Flor Morena
Brilhando com televisões, fogões e antenas,
Nosso amor vivo como um touro cheio de água,
Onde respira suas raízes serenas e densas e intensas.

Cacida da Morte



A morte é um touro sem vida
Galopando em águas gélidas
Como uma águia ferida por 
Duas mãos semi divinas.
A morte é um touro sem vida,
Agressivo e vulnerável, que aplica
Seus chifres contra as árvores
Brancas que choram suas depressões
Como estrelinhas de gingerlim.
A morte anda com um touro sem
Ossos, com mãos invisíveis e cheias
De teias de aranhas cravejadas de diamante.
A morte é um touro que não canta,
Nem ri, nem chora, não respira pétalas brancas,
Não sente o vento passar, Não se importa
Se as amadas tem poetas, ou se o mar tem horas.

domingo, 13 de outubro de 2019

O portão

O portão


O portão se abre
Sim, não para o infinito,
Não, para os labirintos,
Sim, o portão que
Fechado estala as
Mãozinhas dos elfos
Duendes de cristais
Que querem dançar
Com os corais e com
As estrelinhas amantes
Das tartaruguinhas.
O portão se abre porque
Deus quer ver as almas
Dos mortos.

Do óbvio

Do óbvio 


Veja só os seus conselhos
Físicos e químicos como
Uma metralhadora amorosa.
Não, você não é uma morsa,

Também não é feia, nem
É horrorosa, é que em tempos
Governamentais como esse
As flechas de Sebastião estão
Entrando até nos olhos dos

Querubins pequenos.

Você ainda não entende
A mensagem que os índios passam.
Água, pedra, florestas, flores,
Os vampiros são criminosos?

Deixai que as coisas continuem
Óbvias para os cegos enxergarem.


sábado, 12 de outubro de 2019

ha un poeta

ha un poeta

per dire quello che dici cosa da scarafaggio città leggio

era amore

prima volta
quello che succede a me
per vedere la farfalla
e succhia tutto

Ho già visto

Ho già visto
molte isole come zingaro Sono visto tutta la costa della mia vita