domingo, 15 de setembro de 2019
Canções das navalhas
A cidade está escura
com muros de luzes em volta,
os carros passam sem rumo
apressados para lugar nenhum.
Será que o dia de hoje será
igual ao de ontem e o de amanhã
trará em suas asas de petróleo
porcelanas e anjos de cristais?
A cidade está escura
como a solidão do coração.
Rodeado pelas mãos de
uma cigana velhas canções
se soltam pelo mar, prédios
embelzam as ruas esburacas,
e as pessoas com cara de mau-humor
parecidas com o demonio
olham para você como se o espelho
fosse o outro, sem saberem que o
nada do pó é o que aguarda a sombra.
Magnésios, sim, porcelanas,
festas em tantos lugares,
mas depois de amanhã,
quando terminar a cerveja,
não sentirão saudade do que
acabou de acontecer?
Isso porque a cidade não vive no presente, a cidade não olha para o futuro, é sempre a mesma sombra tapando o sol, o mesmo resignar de ir e vir sem saber para onde ou para que, levando os documentos para a mídia, e acelerando a ordem das coisas para que a televisão registre o outono, se é que podemos esquecer que a cidade não pode entrar no nosso coração, porque não somos imensos,
e os sonhos se finam quando abrimos nossos olhos.
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