domingo, 18 de agosto de 2019
A tempestade na cidade
Luzes e coloridos imensos
Sinalizam pelas portas do vento.
Uma canção singela se ouve
Dos prédios, sinaleiros, automóveis.
Uma estranha criatura canta
Sua melodia com as mãos nas ancas
De uma virgem prostituta bailarina.
Pelas ruas vai de tudo: gente, moto
Drogas, sonhos, postos de combustíveis,
Comerciantes inescrupulosos.
As cortinas das vitrines oferecem
As nossas vidas aos centros de saúde.
Em cada esquina uma igreja
Concorre pelo desejo de lucro
Dos açougues.
Se engana quem pensa que ser
Poeta nesses escândalos de cidade
É uma necessidade. Esse povo
Que só pensa em trabalho
Recebe um papel porque não leem
Com sabedoria os dicionários.
Fica entre mim e o muro as navalhas,
E com o asno comandante
Terão todos uma arma engatilhada.
Dirão aos poetas de novo: passai fome
Com sua opereta. Mas o mundo é
Mesmo uma imensa e triste punheta.
E enquanto as bailarinas e os mercenários
Não roubam nosso mínimo salário
Vai as gotículas de chuva estampando
Nossa alma de frio e de um sonho imenso
Que não sei se é blasfêmia se digo
Que o coração sente perto o divino
Com tantas dores e tristes e alegrias
Vai a chuva caindo pelo vidro
E a cidade em tal blasfêmia
Vai sobrevivendo de sons
De tudo o que nos deixa
Se não mortos, ao menos, vivos.
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