sábado, 30 de março de 2019
DO livro do destino
Quando pequeno tive interesse nas feições dos tigres. Achei encantadora as imensas lágrimas dos crocodilos e fingi que os querubins rodeados no jardim fossem misturas de tigre com crocodilos. Ao mirar o retrato da donzela no espelho, seus olhos eram como dois punhais abrasados pela fúria do amor. Mesmo assim eu ainda me lembrava da feição aterrorizante do tigre prestes a atacar a carabina e o luar.
Depois de algumas semanas fiz questão de esquecer a figura manchada do laranja e do negro que exalava dos tigres. Tais cores eram para mim o retrato de uma inominada cegueira. Então como se a hipnose e a religião estivessem se guerreando em minhas ternas alucinações, contemplei a figura dourada de um leão e o marfim dos elefantes, como se a brisa e a morte quisesse decifrar uma estrela.
Na escola desenhei tigres, crocodilos e leões. Os espelhos acharam incorreto descrever a juba de um só felino, e tive que me contentar a dizer que os sonhos me estavam conduzindo a criação de um zoológico fantástico.
Por fim antes de cruzar os corredores da biblioteca, abri uma enciclopédia e vi a figura de um leão. Ali estava o tigre e o crocodilo. Eu não consegui entender os sinais misteriosos de tais acontecimentos. Por fim tratei de esconder o livro numa estante que não seria jamais vasculhada. O segredo do tigre está guardado comigo. O leão continua a assombrar meus sonhos. E o crocodilo seria o punidor dos pecados. Será escrito tais coisas no livro do destino.
Livro do Destino, escrito por Zairi Ben Ryaldin
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