Ourives, sim, por favor
Me impressionou muito um certo ancião ourives que morava em minha cidade. Ele era um homem muito baixo, nariz aduncado, em forma de gancho, um nariz muito formoso, se querem minha opinião. Tinha olhos azulados, que pareciam faiscar quando olhavam de um lado para o outro, antes de atravessar a rua e entrar em sua loja. Acostumei a vê-lo, sempre que ia para o centro da cidade, para comprar roupa, ou para tomar um sorvete.
Ele usava uma bengala. Uma bengala rustica.
Ao ir passear sozinho pela cidade, acostumei a ir na loja dele, e antes que eu fosse enxotado, eu perguntava sobre os anéis bonitos que estavam sobre o balcão. Acostumei a fazer isso, tanto, que o velho simpatizou comigo. As vezes se esforçar por algo tem lá suas vantagens.
Pedi para que ele me ensinasse a fazer anéis. Perguntou-me o por quê de querer aprender a arte do seu oficio. Respondi francamente: gosto de coisas bonitas e brilhantes.
Ele deu uma risada, uma risada rica e contagiante, meio anasalada, meio cheia de tristeza. Passou a me ensinar o oficio de um ourives. Cada peça, cada detalhe. E me contou sua história de vida, que me fazia erguer as sobrancelhas, e de vez em quando, me fazia arrepiar os cabê-los. Tinha vindo da Polônia, de onde escapara da guerra por ser amigo de um oficial que permitiu sua saída pela Turquia. Atravessou a África, e veio parar no Brasil. Mas perdeu muitos parentes. O que aconteceu com eles?
Não quis me contar. Lágrimas rolavam dos seus olhos quando eu fazia essa pergunta. Ensinou-me os rudimentos, ensinou-me todas as profissões. Eu devia ter um quinze, dezesseis anos nessa época. E após concluir meu primeiro anel, vi minha mãe acenando do lado de fora da loja.
-O que estava fazendo ai dentro? Não vê que seu tio é um homem ocupado?
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