terça-feira, 17 de julho de 2018

Desisto

Sim, desisto,
desisto de qualquer coisa
que se mova, ou que esteja
doente, ou morta, ou que
esteja como eu, rastejando
com o pé quebrado
em direção a lua, essa imensa
baleia branca que quer adormecer
meus olhos.
Desisto.
Por quê? Porque Salomão
me ensinou que para tudo
tem um tempo. Chegou o
tempo de desistir, o tempo
de por os olhos nas lágirmas
e desistir e desistir e desistir.
Ou como diria o velho profeta
cego: sim, há o momento de
aceitar a derrota para que
a vitória se torne um mel
doce em nossas bocas.
Mas as abelhas selvagens
de bundas pontudas
não irão aceitar que
roubemos o seu mel
e seus ferrões irão ser
como políticos honestos
sendo presos (uma espécie
de milagre, eu acho).
Desistir, para que isso?
Não, não vou desistir,
embora eu escreva
que desisto, eu sempre
desisto: desisto de ter
ódio, te ter dor, desisto
de quem me esbofeteou
a face, desisto do deserto.
Desisto de ti, até mesmo
de ti, graveto mágico,
pãozinho quente amado,
desisto de ir te ver,
desisto de amar, as vezes
desisto até de mim.
Sim, desisto.

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