sábado, 12 de maio de 2018

Substancias

         Sentei-me no chão para ver o que estalava. Um som estranho, perplexo, percorria o ar. Meus olhos estavam, em primeiro lugar, vidrados na luz solar. Queria que o sol pudesse entrar dentro de minhas pupilas e assim iluminar o interior do meu cérebro atormentado por muitas lembranças. Isso seria loucura para alguns, para outros, seria a própria iluminação. (Iluminação, que palavra ridícula para se dizer numa sexta-feira).
 
  Sentei-me e fiquei um pouco com os olhos fechados. Em primeiro lugar, notei que a escuridão atravessou os meus olhos. O que antes era um branco intenso, porquê fiz questão de olhar o sol por alguns segundos, se tornou um escuro, aquele tipo de negror que nos toma quando estamos dormindo. E meus pensamentos fizeram o resto do trabalho: (pensamento, outra palavra ridícula para se dizer numa sexta-feira).   

   Vi o rosto dela saindo de uma nuvem, uma espécie de anja camuflada de primavera nos seios. Nos cabelos, o outono assoprava folhas, no pescoço dela um verão radiante piscava fogo. Os olhos dela pareciam dois oceanos calmos, e bem no fundo de suas pupilas eu pude enxergar as ondas se movimentando. 

   Descrevê-la não é um trabalho fácil, nem mesmo para alguém que queira se dominar um "poeta" (meu Deus, eu só consigo pensar em palavras ridículas que não devem ser ditas numa sexta-feira). 

  O som que tomou conta dos meus ouvidos me fez lembrar dos dias em que eu era o melhor aluno de química na sala. Uma vez, fui o único a tirar a maior nota em uma prova (provas, que coisas ridículas que essa sociedade maldita inventa) de química. 

 Posso prosseguir? Eu sempre admirei as ondas eletromagnéticas, sempre gostei de ouvir os rádios e entender as diferenças sutis entre uma onda AM e uma onda FM. E com quem discutir essas coisas que me agradam, e que eu tanto leio nos livros? 
 
  Tentava dialogar com os colegas; esses me consideravam malucos. Algumas meninas que namorei também não curtiam muito física, nem química, nem história, nem matemática, nem literatura. Santo Deus, que mundo perdido é esse!

 Que som seria esse que percorria o ar? Eu queria saber. E para descobrir isso e entender tal fenômeno, sentei-me no chão. Comecei a meditar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário