segunda-feira, 30 de abril de 2018

Ensaio quase maiakóvski


Uma colagem misto-poética em homenagem a vladimir maiakóvsky, caetano veloso e roberto carlos, poetas músicos, usando a minha reinterpretação de suas obras com a teoria verbivocovisual dos concretistas!

Vibrações

Vibrações

                                     -moriah 

Que flechas
são essas,
serenas, com
imensas presas?
Flechas cortantes,
delirantes, nos olhos
escuros da pele escura.
Que flechas são essas?
Flechas roxas nos seios
negros, flechas tão belas
nas nádegas escuras.
Flechas em forma de
primavera, de runas.
Flechas escuras e puras.

Estou sentindo
o seu perfume,
vibração de quem
dialoga com a alma
do vento do ocidente.
Uma flecha que corta
os olhos com silhuetas
semelhantes a dentes.

Que flechas belas,
negras, escuras.
Que flechas perfeitas.
São flechas diurnas. 

                                              -mills

Cotidiano de perguntas

Cotidiano de perguntas

crônica

-Quem governa esse país?
-O presidente.
-E quem trabalha nele?
-O povo.
-E quem paga o presidente?
-O povo.
-Como?
-Trabalhando.
-Mas o presidente não trabalha em favor do povo?
-Aqui é o país dos contrários: o povo trabalha em favor do presidente.

-E existe nesse país deputados?
-Sim.
-Não.
-Sim ou não?
-Sim e não.
-Cuméqueé?
-É que tem. E ao mesmo tempo não tem.
-Como é possível isso, meu senhor?
-Tem, porque eles estão lá no congresso. 
-E não tem porque eles não trabalham.

-Esse é o país do futuro?
-Sim.
-E porque não vai pra frente?
-É que ele sempre está no futuro.
-E o futuro nunca chega. Só existe o presente.

-Têm arte nesse país?
-Cuméqueé?
-Cultura, porra. Esse país tem cultura?
-Tem, é claro. Temos grandes artistas.
-É mesmo? E onde eles estão?
-Uns mortos, outros desempregados, outros na europa...

-Nesse país existe aposentadoria?
-Qualé, gringo incherido, tá achando que o nosso país é comunista?

-Você trabalha?
-Sempre.
-E por que não está trabalhando agora?
-Porque descobri que trabalho escravo já foi abolido há muito tempo...

-Conhece Millôr Fernandes?
-Um lexicografo.
-Conhece Ariano Suassuna?
-Um profeta.
-Conhece Gabriel Limane?
-Um iluminado.

sábado, 28 de abril de 2018

cópula literária



                                   po sexuaisemas

Não posso morrer


Não posso morrer
nem suspirar no muro
nem ver teus olhos
lentos de figos,
não posso partir
nem regressar
não tenho saliva
para agarrar os
troncos marinhos,
nem tetas duras
para alimentar os esquilos.
Não posso morrer,
nem existir,
nem suspirar
com o oxigênio
das tulipas imorais,
nem posso recitar
os salmos debaixo
das amoreiras sem
lembrar que minhas
lágrimas eram sangue,
sono e argila meus poemas.

Desabafo


 Tenho medo do ar da noite.
                       A rua tem olhos...

Ela é



Ela é bonita do jeito dela,
no sorriso, no corpo, primavera,
nos cabelos tão bonitos
vejo luzes vejo luas vejo mares.

Ela é bonita do jeito dela,
no corpo, no sorriso, primavera,
quando me fala a luz do céu
vejo acender em seu lindo rosto.

Ela é bonita do jeito dela,
primavera no sorriso e no corpo,
ela é apenas uma menina
que ainda crê na força do Amor!

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Autobiografia



Sempre vou me lembrar
daquele menino
triste
   sentado sozinho
na biblioteca
esperando Deus
para tomarem juntos
um copo
de café com leite.

O artista



Eu nasci poeta e artista assim como aquele que nasce coxo, como o que nasce cego, como aquele que nasce formoso.
Lorca, poeta espanhol

Mas quem será que masca a mascará do boi
a língua a boca o sol o poente se encerrando
no oceano de duas bocas uma muralha enquanto
os beijos são tenebrosas tempestades em forma

de areia esmigalhada pelas formigas do outono.
Onde se vai sem as areias do mar querendo 
brilhar nos olhos cegos, ou nas mãos mancas
das palavras insinceras dos mercenários da indústrias?

Quando Lutero soube que os meus olhos
estavam assassinados nessa cidade sem luz
cuspiram nos meus pratos os desejos incolumes
e os vagabundos da serra ditaram dicionários herméticos.

Por ver minha alma se derretendo o natal
se adiantou e deixou seus braços me comoverem.
Enquanto colocavam fogo nos livros e nas pessoas
a embaixada do céu decretava o fim do mundo.

Me lembrando de você




Longas tranças de mel
na boca coroada de estrelas,
sóis e margaridas nos peitos
duros de longas tetas,
metálica voz morena nos seus
cabelos tão escuros de luas negras,
mas o outono preferiu te tingir a pele
de branco porque a neve dos serafins
era vermelha em tua silhueta ou buceta.
Me perdi nos lábios puros quando te conheci,
e mesmo que os labirintos das casas vazias
e tornavam minha alma com gemidos longos
eu toquei suas nádegas como amoras e pude
entender o delírio dos figos a beira do rio dos mortos.
Mas não te ouvi chamando o meu nome nos bosques,
nem vi suas mãos apalpando os meus
lábios como seios e minhas angustias como travesseiros.
E quando eu quis entender
o do por quê de ter me deixado triste
e vazio e largado como um querubim de
petróleo amargo, vi sua face, seu rosto dourado
querendo a transparência da lua, pedindo,
mendigando outra coisa que não fosse alface.

Então entendi que os nossos caminhos
seriam afastados pelas palavras doces de Cristo.
E quis coroar sua face
com abelhas e outros animais
que devotavam minha longa aversão:
o cavalo de sabres e espadas longas
o touro feito de sangue e a gata feita de manteiga.

E quando eu delirei essas coisas
na ardente febre da existência,
suas mãos me pescaram como petróleo,
e nas lágrimas da bíblia te recitei o alcorão
de de cor, 

porque sabias que o meu sangue era
muçulmano, e sabias que minha terra
era do outro lado do teu jardim,
da plantação da tua alma,
do teu sagrado lírio, da tua benção.

E quanto mais eu gritava o seu nome
no jardim do amor, mais eu era empurrado
pela porta,
e ouvia a voz dos desesperados
que mandavam-me desaparecer
pelas esquinas, pelos bosques,
onde eu via a inveja e a solidão,
onde eu encontrava as folhas,
onde eu estava com os fantasmas
em cima dos muros.

E de eternidade eu ria
zombando das colheitas e dos pecadores.
 E ia entendendo o naufragio
do seu coração em meu iceberg,
e desesperado quebrei o meu espelho
e esmurrei a minha cara,
só para entender a metafísica
da imagem e semelhança de Deus;

e pude provar do seu amor
quando as nuvens doces e frias
cairão de suas tetas para a minha
boca, onde amarguei a solidão
e suspirei versos como um louco,
louco, essa palavra inspiradora de temor.

Foi aí então que vi
que não estavas ao meu lado,
foi então que percebi
que eras menos do que uma lembrança,
e suspirei por suas coxas liricas,
alvas e brancas como as mariposas.



Encontro



Cai o pingo do sol
em meus olhos murchos
nas chuvas que não
chegam ao meu peito
desesperado e contrito.
Basta, se não queres
me ler não me encontre
nos lírios.

Magnetizado, sou isso,
um pouco estranho
a seu amor feito
de miseras e suspiros.

E mesmo que não haja
nada que nos una mais
do que a nós mesmos.

Sangrando pela lua,
quero destilar meu orvalho
e beijar seus suspiros.




Meus sonhos



Meus sonhos são pó,
como tudo o que me rodeia:
a casa silenciosa do meu coração,
meus lábios de jasmins dados aos ventos,
a silhueta da nudez dela que me acompanha.
Meus sonhos são pó,
assim como o rio que me leva a alma
feita de girassóis e redemoinhos,
assim como minha alma é feita
de elásticos e ventanias de frio,
meus sonhos se misturam a mim
mesmo, formando a fornalha 
em que minha respiração transpira
querubins de mel e serafins de lírios.
Meus sonhos são pó. 
Pó de existência.

PRECISO TE ESQUECER



Se as coisas são
o que sempre são,
sei que posso te perder no
fio eterno e azul do mar,
quando os seus olhos de
manhã me escurecem sem
a luz do sol, imóvel e duro porto.
Preciso te esquecer,
porque o esquecimento é o único perdão.
Preciso te esquecer,
se eu quero morrer puro como algodão
nessas ondas, pálidas, noturnas,
e me afogar com os peixes
e contar aos pássaros do oceano
minhas estrofes de pelicano narigudo.
Preciso te esquecer.
E quanto mais escuto sua voz
presa no espelho do tempo,
choro lágrimas de caracol
e coloco o meu coração de
vidro para te refletir nesse por-de-sol
tão pálido, 
tão duro,
onde a morte me encontra
como água salgada,
onde o amor não durou um segundo,
onde não existe saudade,
nem existe mais palavras.

quarta-feira, 25 de abril de 2018

A morena



Gosto do seu rosto
da sua face morena
dos seus olhos marrons
brilhando como águas

Gosto do aparelho
nos seus dentes
que são brancos,
imagino-os rosa, 

porque eu vi uma
calcinha rosa e queria
vê-la vestida com ela.

E seus cabelos
são negros, escuros,
a cor mais bonita,
a cor que tinge o
céu quando o azul
inflável já não aparece.

THEY’RE GONE ,
você diz e eu digo sorrindo
porque você é perfeita! 

terça-feira, 24 de abril de 2018

Sinistros versos



Falhados versos presos
ao meu coração e a minha garganta
surgem enquanto a noite chora
suas lágrimas e suas foices de estrelas.

Levando as donzelas o rio geme sua canção
enquanto pequenos insetos continuam
sua chamada errante pela terra.

Penso que ao colocar no papel
o meu gemido em forma de relampago
irá chegar um navio, embalsamado
de fantasmas e lembranças.

Penso... e pensar me dá câimbras.

Vou levando o meu passo
errante de eterno semita preso
aos bárbaros sem pressa,
e me calo mudo pela morte
cheia de arenas e flechas.

Me deixaram imóvel
nessa cidade maldita.
E enquanto os meus olhos
se perderam em nublados 
momentos de chuva, fui ver
o seu rosto, que estava fadado
a ser o meu escudo inútil...

Não tem pressa, nem amargura,
tenho apenas no peito os versos
que compreendem
o significado da loucura. 

Por isso minhas mãos respiram
o limão e a laranja 
e as flores sentem os meus versos
com bafos de morte
e dores lentas.

Colhendo


Colhendo flores e rios
em meus versos cegos de flechas,
movendo a solidão com minhas mãos
enquanto o meu coração sofre a existencia.

Colhendo flores e rios,
atravessado por espadas nuas
e pequenos insetos em forma de poemas.
Quando me viram saltando os prédios
quiseram que a minha morte fosse serena.

Colhendo flores e rios,


suspirando lágrimas de manteigas.

Cena do mar e do amor



-Suas mãos estão suando.
-Para onde galopa
o sonho dos mouros?
-Suas mãos estão sangrando.

-As ondas se vão...
-Quem disse que meu dorso é de ouro?
-Meu pequeno destino é feito de espigas.
-As ondas voltam...

-Peço um beijo.
-Não posso vender meu coração.
-Peço um beijo.
-Meu abraço é de argila.
-Quem carrega teus lábios?
-O por-do-sol.

Cena do luar enegrecido



-Carregando lágrimas e lírios.
-Os gravetos e os maribondos estão mortos.
  -O sol não pode aparecer para atrapalhar meu canto.
-Nem a lua pode velar seus mortos.

Cena da morte



-Carregando runas de mortes,
se vão.
 -Como ciganos, chorando.
-O luar, lento, canta seu grito.
  -As tumbas do mar estão cantando.

Apócrifo de Guillen


O ontem é um sonho
o hoje perfeito finda.
O futuro é vapor de lírios.
Amém.

domingo, 22 de abril de 2018

Gazel do orvalho


Carros enferrujados, orvalho frio esfriando o ambiente sem gelo, 
noite embaçada de estrelas distantes,
 em agonia na alma espatifada de dor e angústia.
Dorme na janela querubins em forma
de flechas agudas e silenciosas.
O coração apertado suspira
e os gemidos se transformam em portas.
Esse é o lugar onde a nossa respiração
não corresponde ao mar,
onde a natureza material nos torna
frios e largos, como carros enferrujados
pelo orvalho sonâmbulo de beijos
falsos.

sábado, 21 de abril de 2018

Provérbio

Queimo velhas lenhas,
 leio velhos livros, 
bebo velhos vinhos, 
e por cima de tudo, 
tenho velhos bons amigos!

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Sua voz


Não se esqueça
de mim, não, não se esqueça,
enquanto os sonhos repartem
o azul cristalino do céu
quero que você decore
o meu nome sem tranças.
 Não se esqueça de dizer
que todas as coisas estão
trancadas com a tua voz de girassol:
a porta, a janela. Não se esqueça.
Enquanto a madrugada fere-nos 
com arpões e mistérios de outrora,
não se esqueça de me abraçar
com sua voz,
sua voz de poucas horas.

A voz do morto



Acordo morto todo dia,
adormecido pelo som lilás
da tua voz de melancia.
 Visão de runas
e melancólicas argilas,
remédios vencidos sem
datas, livros tombadas
como guerreiros de Granada.
Vencido e vencedor
unidos pelo mesmo sangue
e derretidos pelo mesmo sol.
 Com o cantar gigante
componho poemas com
coisas que  me rodeiam 
e rimam minha ansia
de escapar da morte:
 morte pura
 morte sem sorte
 morte melancolia.
Acordo e vejo seus lírios.
E de novo adormeço,
com sede,
com fome.

Vendo o jardim do meu avô



Na imensa luz das cores
mariposas valsam pequenas
como orquídeas recém despertadas
para a vida destruída das flores.

O jardim tombado e morto
vela pequenos anjos negros
enquanto muralhas de perfumes
se espalham pelo sangue do dinheiro.

O sol alaranjado rege
o azul com foices e martelos.
O rio segue seu ritmo de mar
para afogar sereias com licores.

Do outro lado do muro
sete navalhas empenhadas a cortar.
Rouxinóis cantam
enquanto mariposas voam.

Ternura para o amanhã

 

 Onde minhas mãos se escondem
longe dos teus olhos de luares frios
ali me deito ali sonho ali me torno
algo escuro algo enegrecido algo puro.

Sua boca torna a me alimentar com
imaginações e ferros pesados enquanto
meu pulso e meu suave pensamento
conclui com palavras secas a vida 

e o deserto das casas desmoronam
tumbas no fundo da minha alma sangrada
e estrelas pequenas e baças fundam
nomes que não posso dizer por futuros.

Sei que o meu amor foi congelado
sei que as minhas palavras já não valem nada
por dentro do carro fui vendo as estradas
e o verde vivo do cosmo inchou minha alma.

Minha pobre alma velada pelo amanhã
minha pobre voz roubada pelo rei dos grilos
meus pensamentos ocultos feitos de estilhaços
vidros vidros do oceano e do sal onde pousei

onde eu quis ser mais do que eu poderia ser
mas
a vida não quis que eu fosse nada que eu pudesse
e minha voz cantou desesperada de silêncio como o galo

solitário no jardim da minha casa
e me lembrei de rostos rostos lindos rostos bons
e me lembrei que a morte era apenas uma metamorfose
da própria vida e que a vida por si mesma não pode ser sem a morte.

Mas eu já não estava iluminado,
me deixaram separado de tudo o que eu amava:
das bibliotecas cheias de teias de aranha e pessoas
enclausuradas em celulares, 

do oceano, da praia imóvel, da areia pura e seca do mar
onde meus braços podiam repousar e a minha esperança
assassinada por brutos e invejosos rodeando minha alma
e eu me lembrei que eu era um serafim abandonado.

E quanto mais eu gritava conseguia ver o silêncio
dos mortos que me rodeiam nessa cidade abandonada
e quando eu quis ver as estrelas
pude sentir o vento e o frio do cosmo me tocando.

Com a voz fanha e embargada de suor
eu quis dizer tudo, e como sempre eu não dizia nada
nada que as espadas da escuridão e as cavernas da vida
não iam dizendo na minha cuca fundida de pó e lama,

zombavam de mim quando eu era criança
e de repente me tornei admirado calado quieto assustado
 e nenhuma palavra conseguia me atingir
porque era tarde, a escuridão do sol corroeu a minha alma

e o lustre das baleias, o amanhecer dos besouros,
a mordida dos vaga-lumes, as picadas dos pernilongos,
a morte do touro com navalhas de comércio e o fogo
do relinchar dos equinos transportados sem asas 

tudo isso apagava os meus pensamentos
e eu cruzava os dedos incapaz de trabalhar
e em cada noite me deixavam morto
enquanto os meus olhos falavam de

mariposas, runas, antigos destinos,
descendências feitas de papel em lata,
medalhões esmagados e ouro roubado
que não se pode comer nem partilhar. 

Quando me coloquei de pé
disseram que tudo o que sei fazer são
desabafos, comercializando traumas,
propondo enigmas antigos 

e parábolas que nenhum ser
doente ou cheio de feridas poderia
entender com os olhos manchados
de lágrimas roxas. 

Foi então que coloquei em todos os meus versos
as janelas, as cortinas, os sofás, as casas,
e foi ai que entenderam que enquanto a
noite bruta me velava meus sonhos iam

se tornando reais: marchavam, como as horas,
seguiam o ritmo dos ponteiros e o frio do vento
anunciava a chegada da manhã. 

 Eu, com a mais doce ternura, 
coloquei no fundo do peito uma agulha.
E a manhã foi se tornando alva, como um sonho,
e me lembrei que a cor amarela também era esperança.