domingo, 24 de setembro de 2017

A alma do amor

A alma do amor 

(oriente ocidente)

Não posso mover a lua do teu corpo
com a brisa selvagem das minhas mãos,
não posso tocar o teu perfume de lebre
com o meu nariz suave de gafanhoto morto.

Eu te vejo como a chave brilhante do 
quarto, vejo os teus olhos rasgados de oriental,
eu vejo a Ásia em teus seios de oceano,
vejo a lenta brancura dos teus beijos de colher.

Eis a mulher, a mulher brisa, a mulher farinha,
a mulher relva, coroada de cinzas, coroada
de coisas que não posso nomear, nomeio-te
mulher oceano, mulher montanha, mulher rocha.

Não me doe dizer que tuas formosas nádegas
são carroceis feito de ouro, diamante, lírios,
não me doe dizer que tua bunda carrega a
chama viva e ardente da madrugada de todos

os lírios, de todas as fontes e nascentes que
me levam até o mar de tua boca e as constelações
ardentes de teus cabelos escurecidos
pelas estrelas e pelos poentas de formas duvidosas.

É lento o amor em tuas coxas, ancas feitas
de mel silvestre cujo a seiva eu domino para
deitar contigo os milhares de versos que posso
escrever possuído de amor e de paixão, sem neve.

E miro lentamente o teu rosto de ferro, tua costa
de bruma, teus peitos de madeira, ó suave companheira,
mariposinha dos jardins esquecidos do meu coração,
as suas mãos aleivosas alimentam os meus olhos

com fogo de esperança, com morte e solidão.
Por isso te quero e não te quero, e quando estás
distantes e fria como a morte, não duvido que
estejas cansada, ou doente, ou cheia de madrugadas.

Não sou eu quem te leio os livros sagrados
nas estantes, nem sou eu quem te aborrece
o coração com chocolate e com o vinho da
pequena matriz dos delírios angelicais das formas.

   Nasci poeta para te descrever ao mundo,
não a esse mundo fajuto, esse mundo decadente,
não a esse, amada minha, companheira das sombras,
mas a outro mundo que não esse, um mundo sem mistério,

um mundo de luz envolta em um capuz judaico,
um mundo sem martírios e sem flechas, um mundo
onde os reis são o que são e as lendas não existem,
um mundo onde o teu amor é tudo e as pinturas são

feitas para serem arremessadas para o mar,
elegantemente feridas pelas ondas, enquanto o teu corpo
nu, puro, simples como a matemática,
naufragando pelo feijão cheiroso de cupins?

Não te deixo enroscar tuas pernas antes que
o vento da oliveira nos toque os lábios,
nosso lábios de fogo e de mel, nossos lábios 
quentes como os vulcões da primavera.

Mas amada minha, não sou eu quem te lê
os poemas esquecidos nas estantes frias,
não, não sou eu quem te murmuro os versos,
não sou eu quem se atreve a te esquecer.

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