terça-feira, 30 de abril de 2013
senta-te aqui...
Senta-te aqui, observei-a um pouco curioso, não estava preocupado no que eu ouviria saltar da sua boca e das suas palavras, se seriam agradáveis aos meus ouvidos, ou terrivelmente me magoariam. Sentei-me mesmo assim, fiquei um pouco apreensível com o que ela iria dizer, mesmo eu já pensando um pouco no talvez eu iria escutar, em meu pensamento eu já deduzia as coisas que ela iria dizer, gritar, berrar. Mais não berrou. Se conteve com doçura total. Meditei em mim mesmo: Como? Quê? Ela não me disse as coisas, as brutezas que eu imaginava q' dela eu iria ouvir. Mais eu abri as minhas orelhas, meus tímpanos para escutar a doce voz dela. Eu estava sentado ali, na cadeira, uma cadeira dura, que me doía as nádegas a qual eu as trocava de posição. Os cabelos dela desciam-lhe de tal maneira pelo corpo, morena, morena, morena como um cacau. O cacau, o chocolate feito já: morena chocolate. Branca de pele, porém morena, delicada, pura, seduziu-me na primeira oportunidade em que a vi. Quem entenderia isso? Em tempestade de copo, só enfia a colher quem tem nuvens brancas no peito inchado. Meu peito inchou de contentamento, sim. Pouco a pouco fui vendo brilhos nos seus olhos. Antes eu não acreditava nessas coisas: deduzia, lembro-me: bobagem é. Incompreensão dos que sofrem, eu me punha à parte do mundo como poeta... Tão poeta de se deixar levar por opiniões alheias... O amor não presta, o amor é isso, o amor é aquilo, o amor vai e volta o amor volta-e-vai, e opinião minha, minha, de meu peito, tripa, coração, vísceras puras, escutar eu não escutava. Sofrivendo eu ia, mesmo querendo ter amor, consolo, e chegava em horas de desconsolação e meditava no escuro: quem sou eu? Eu sou eu, ora! E eu não compreendia quase nada, e pensava no medo, no susto, no escuro. Aja luz pra me iluminar, e houve. Concluí: escute bem o peito. O que ela iria dizer, falar, me pressionou o peito, me interessou os ouvidos, me agitou a cabeça, me elevou o espírito. Fala, fala, fala, que eu estou doido pra escutar o que tens a dizer, desembuchar à mim. Voz mellódica era a dela. Rana pura de rio. Um puro, um elo, um momento de escutá-la. A deixa eu ouvi-la mais um pouco, antes que o cavaleiro do reino d'ela venha buscá-la no galope branco e leva-la para longe de mim. Eu ria, ria e gargalhava: Há-ah-háháhá-ahá! Eu vi-a sem coragem de dizer de novo. Homem não sabe se entregar nas purezas intimas do choro. Sertanejo, sou, sabia ela? Não! sertanejolista, de terras do sul, bem pra baixo dos matagais puros dos mineiros, dos campos prá lá dos reinos do sertão. Eu sei, eu sei, é difícil de compreensão, mais compreende, vai indo, enrosca ali, salta aqui, me sinta, eu estou no pulo do tigre da bandeira vermelha. Há dois "g,s" estampados por sobre o nome do rei. Senta-te aqui, tenho coisa pra falar pra você, coisa séria, coisa intensa. Indo, vai, deságua aos poucos, nos rios pequenos, nos rios grandes das lágrimas brilhosas. E brilha mais um sol, e brilha mais uma luz. Ave, doce, saudade, salgadamente. T' inha águas nos rios dos zóinhos puros delas, saltavam-lhe flores na boca: posso começar a falar. Falei: tô escutando. Fala. Passou a falar, discorreu, explicou, disse, modificou, se interpretou, mó interpretou, enveredou, andou, suspirou, contou, me olhou, desolhou, replicou. Ficou certo. Senti sinceridade em suas palavras. Fazê o que tu queres, farei eu a tua vontade dominadora. Certo, não me impeça não me imponho. A sua vontade foi feita. A nossa vontade. Não era hora, não era puro, era sonho, inexplicado... e quando você vai voltar pra mi explicar?
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