terça-feira, 30 de abril de 2013

nada disso

Não, nada disso. Seu rosto era alvo, branco branco branco. Branco feito açúcar. Sedução, seduzia. Ela estava morta, me disseram. Eu não acreditei, pois eu não podia acreditar que aquela altura, que naquele momento, em que eu estava com os óculos escuros sobre o rosto, ela estivesse morta. Mas ela estava. Isso eu não admitia. Segurei suas mãos, ela sorriu, perguntou se eu queria dançar alguma coisa. Tango? Um samba? Alguma batucada qualquer? Eu segurei seus cinco dedos sobre minhas mãos, estavam frias, frias como o gelo. Ela era uma geladeira, porém o seu corpo estava feliz, e eu estava feliz, e eu fiquei contente, e elevei a minha voz. Você ainda tem aquele verso que você fez para mim guardado? Sim. Onde ele está? Espera, pensei que eu o tinha posto sobre o meu bolso direito. Ah, ele estava sobre o meu bolso esquerdo, amassado, suado, escrito a tinta azul. O nome dela estava no final, com tinta vermelha. Não, eu não sei porque , mas a minha alma estava tão viva enquanto o meu corpo tocava-lhe o pulso, o pulso doce e suave da veia. A veia dela pulsava tão viva quanto uma estrela girando. Pulsava, girava feito o sol. Eis a comparação exata que eu desejava-lhe contar, minha querida. Diga o meu verso? Eu ainda não o sei de cor, vou recitá-lo mais tarde, tudo bem? Tudo! Respirei aliviado, quando estava perto dela, eu sentia uma vergonha imensa, ali ela estava, toda vestida de branco, um branco puro, em cetim puro. Parecia uma princesa perdida de sua civilização. Mais eu não poderia ser seu rei se assim lhe fosse, não é mesmo? Ela está morta, largue-lhe as mãos, aceite. Eu estou aceitando tudo... eu não disse até agora que ela não estivesse morta: não, ela não está. Senti o seu bafo quente sobre minha boca, e me aliviei, e sentei-me aliviado junto dela, no momento exato em que um galo cantava exaltando Cristo e a chegada do dia. E como me iluminei naquelas horas, deitado sobre as pernas macias e plumosas que ela tinha. Eramos pardaizinhos, mas eu não acredito em nada do que eles disseram enquanto eu estava chorando, observando os relógios do horário. Que horas são? São horas de nos amarmos meu amor, esqueça a escuridão, levante sua mão, eu estou aqui. você sozinha, você linda linda, você assim: inteira, corpo inteiro, alma inteira. Ela não estava morta, estava viva, viva. E juntos passeamos por um campo de flores brancos, lírios. Não, nada disso. Passamos, nos amamos, e digo: amor vem de amar. Descansei com ela... Ela estava viva, viva, e nos casamos no aniversário do pai dela!

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