quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
pequena explicação dos poetas
Parte Um
O Brasil, em termos de sofisticação literária ou conhecimento literário, talvez não seja um grande modelo para o ocidente se curvar perante seus escritos. Isso é o que poderia pensar um gringo preconceituoso e sem cultura alguma, e aposto que muitos são assim. Mais o gigante literário sul-americano, que chamo de minha "TERRA", tem uma grandiosidade literária incomoda, que poderia muito afrontar as melhores escrituras europeias ou anglo-saxônicas. Os motivos que me levam a escrever essas coisas é um temível comentário que sempre ouvi de meus próprios conterrâneos: literatura brasileira não presta.
Ora, o que seria do Brasil sem a magnitude de sua poesia? Ou de seus contos e romances? Quero centrar a análise vive desse pequeno embolso, nos poetas e poemas brasileiros, que adentram nossas fronteiras, e curvam de beleza os olhos dos verdadeiros leitores da "Poesia com 'P' que afronta a garganta".
Não que meu nacionalismo esteja falando mais alto do que eu, pois sei conhecer os gênios que a língua portuguesa conseguiu dar ao mundo, como Pessoa ou Florbela Espanca, eu quero dizer apenas, que a descriminação sobre a flor do lácio, que tanto engloba o mundo é apenas uma questão de inveja da beleza que temos no nosso falar e escrever.
Manuel Bandeira representa o lirismo aberto, sem preceitos ou preconceitos, libertino e tradicional. Não foi ele o grande inovador do verso livre de Walt Whitman em nossas terras, pelo contrário, Bandeira introduziu para nós, o compromisso com a forma da tradição e o inovamento que vinha de poetas como Drummond (sentimental e duro), ou Oswald de Andrade (nacional e brincalhão). A nossa poesia tradicional e antiga, continua imposta nos escritos da Dama Literária Cécilia Meireles, que visualmente conseguiu transformar matéria prima em arte e sofisticação. Ela elevou os sentimentos com uma sensibilidade calma, sensível e moderna, sem esquecer dos ritmos e dos sons da línguagem folclórica e antiga de nossos antepassados negros, portugueses ou até mesmo espanhóis. A fórmula de uma poesia espanholada ou aportuguesada, eis uma boa comparação entre Portugal e Espanha ou Brasil e América-Hispânica.
Nesse contexto entra João Cabral de Mello Neto, o único poeta brasileiro que escreveu como se herdasse a dureza e a simetria de poetas espanhóis, duros e anti-sentimentais. Cabral usa seu humor, sua dureza, sua refinação, sua anti-sentimental maturidade para expor seus pensamentos, suas críticas e suas visões da Espanha, do nordeste, de Recife, de Londres ou de problemas metafísicos e artísticos que nunca percebidos, deram a fama de duro e direto. É em seus versos perfeitos ou quase-perfeitos em sua maioria, que ele traduz sua arte de crítico, duelando com Joaquim Cardozo (poeta esquecido, e também refinado), Manolete, Marianne Moore, entre outros. É João Cabral a comparação viva do ver e do sentir nas imagens escritas de nossa poesia, que se presume sempre ao sentimental, já que o português é uma língua sentimental, diferente do alemão ou do inglês, que são línguas duras e sem inhos ou melhor diminutivos. O difícil em sua poesia está no efeito que dá ao leito de lê-lo sem entendê-lo, e para isso, sempre voltar ao texto para continuar saboreando o que ele quis dizer, e deixou dito, mesmo se não entendido.
Voltamos então ao mineiro Carlos Drummond de Andrade, que de moderno tem tudo, e que de antigo não tem nada. Se há um poeta que nunca conseguiu se atrasar com os versos em matéria de perfeição, eis um que união rigor com sentimento, de um jeito que chega a ser estranho, novo, inovador. Tudo isso já está dito e escrito em livros sobre seus poemas e sua vida particular. O poeta tímido e fechado, conseguiu tremer a poesia com uma "PEDRA NO MEIO DO CAMINHO", que foi ironizado chutado, ridicularizado e depois amado. O que representa Drummond em nossa poesia? O sério ou o ridículo O real ou o imaginário? O total ou o desprezado? Ele conseguiu unir tudo, mesmo se sentindo preso a sí mesmo, trocando de pele poética, negando tudo mais tarde... E agora poesia? O que Drummond nos ensinou foi que a poesia nada mais é que tentar dizer o que nos cabe dizer, sem engolir palavras ou negá-las.
Gabriel de Ataide Lima é escritor e poeta brasileiro.
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