quarta-feira, 20 de junho de 2012
Residência na Terra
Preciso de humanidade. Por aqui não há.
Rochas, pedras, mar e vida. Por aqui vida não há.
Não trovoa os relâmpagos da eternidade
o navio ruma sem direção, partindo das entranhas negras
não do vale profundo, mais da própria perdição.
Preciso de vida segura. Por aqui não há.
Preciso de ar honesto. Por aqui talvez ainda haja um bom descanso
diante da lareia de sonhos que se apagou, da frota de fantasmas negros que se afogaram, do rico colhendo rosas para deixar ao pobre os espinhos para se sangrar. Preciso de humanidade.
Por aqui não há.
Aqui o que resta é vento, é sombra e são cabeças de santos.
E acima das cabeças dos santos o ninho do pardal.
Pardal ainda há, mesmo trovoando tanto, mesmo a chuva colhendo
os restos de liberdade, mesmo a vida se desesperando por um
toque de suor contra a inevitável solidão.
E o céu esta parado como sempre. E como sempre lá longe,
distânte de tudo e todos, dança o mar sobre seu ritmo marinho.
E não se pode deixar de sonhar. Por aqui não há mar,
Mais eu necessito de mar, de vida, restos de navios encalhados,
de baleias vivas, de olhares tristes, de vinhos chilenos, de poesia sem esperança, de esperança. E nada disso por aqui se encontra.
E me falha a navalha no peito e me falha tudo no peito. E o marinheiro tenebroso anda por entre o chão do navio cuspindo
(estaria também rindo).
E fere a vida na terra, e eu preciso residir diante do mar.
Mar... porque aqui não há mar. Eu tenho que me acostumar
mais vou me embebedar, e cantar e chorar e descansar.
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