quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Há pouco



Há pouco a se dizer
com tantos silêncios interiores... 

o que dizer?

dê um golpe, e chame de impeachment militarize o golpe, e chame de intervenção federal estigmatize um só partido, e chame de justiça venda o país, e chame de progresso destrua os direitos do trabalhador, e chame de avanço torne o povo escravo do mercado, e chame de liberdade

Aquele ali?




...de um certo ponto adiante não há mais retorno. Esse é o ponto que deve ser alcançado...
Franz Kafka
- Aquele ali?

-Ele mesmo.

-Não te creio.

-Pode acreditar.

-Mas, desde, quando?


-Não sei.
-Tens provas?

-As mais concretas.

-Mesmo?
-O próprio pai disse para mim.

-E quando aconteceu a primeira vez?

-Quando ele terminou, com aquela primeira namorada. Esqueci o nome dela... acho que era Sandra...

-Não. Ana.
-Essa mesma.

-Crê em Deus pai.
-Pois é.

-E quando ele volta a si, se lembra de tudo o que fez?
-Não sei.Só ele mesmo poderia dizer.

-Por que você não pergunta pra ele?
-E eu lá quero criar problemas com lobisomem...

Retrato da paixão


Se te vejo
na penumbra do campo
chorando chuvas e ventos
sei que não é o momento
para dizer-te espelhos
de morte, serpentes,
caranguejos de luas.

Quando o campo 
se silencia pela janela
e a noite rota adentra
o meu coração em
forma de dois olhos
posso mirar distante
entre mim e ti uma
linda silhueta em 
forma de felina branca
espreitando as estrelas
para atacá-las nas sombras.

Ai, se te vejo,
com teus seios de esporas,
tuas nádegas imensas
cortando os meus lábios
como duas espadas antigas,
posso começar a cantar,
chorar versos com arrogância,
mas não irei te conquistar
porque és indomável cavala,
a mais bela das potrancas.

Não és noite, nem és dia,
quando te vejo escondida
pela janela aberta de sombras
sei que o teu nome ficou 
entre o abismo e as papelarias.

Não és cigana, nem judia,
não és oriente, nem ocidente,
teu nome, tua forma, teu rosto
luzes e labaredas de fogo me

queimam.
Posso te ver pelas nuvens
quando o sol empalidece o céu
e tudo se torna azul como o litoral
em forma de onda ou uva sedosa.

E em todas essas coisas
restou-me o silencio de aqui
acampar e te acompanhar 
com um alfabeto agreste

para que saibas que o céu
são os teus lábios nos meus.
Para que saibas que és
a bandeira branca do meu amor.

Vazio


Não há outro espaço para que os pássaros cantem
nessa janela aberta para
o oceano do meu quarto.
Estrelas vazias e tristes resplandecem pelo céu,
imóvel, escuro, pálido.
Não há outro espaço a não ser o vazio imenso
do oceano, conjunto de águas sorrateiras,
não há outro espaço.
Só existe o céu, embraçado de nuvens,
orvalhos gotejando como pingos de névoas,
e uma infelicidade que é um navio se afastando
para enferrujar o fundo do mar.
Não há outro espaço para que eu te ame.
Não há outro lugar.

Alma


Da-me um gole
desse amor,
coração de prata.
Da-me um gole
de vento, do ocidente,
alma do oriente cinzenta.

Da-me um gole
desse amor,
óh fonte do destino,
silhueta das amoras,
destinos encontrados.
Da-me um gole
dessa solidão para
que tire do meu coração
esse embaraçoso inchaço.

Dá-me um gole
desse amor,
coração de prata.
Da-me um gole
de vento, do oriente,
alma do ocidente cinzenta.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Sentimentos


...ao te ver...
Onde estão
as flores daquele
caminho íngreme,
naquele campo
cheio de vida verde.
Onde estão
as pedras dentro
do oceano molhado,
chorando sal e granito.
Onde estão
os olhos constelares
das estrelas que gemem.
Estão onde nada mais faz
sentido.


Entre os seres


O melhor que temos não
é o silêncio em um mundo
terrível.
É a ação (não o movimento)
de efetuar o bem (em um mundo maligno),
esse raro desígnio
entre os seres.


domingo, 25 de fevereiro de 2018

O mar não é aqui



O mar não é aqui,
nessa janela escancarada
de estrelas nuas, frias,
vazias pelo cosmo escuro,
sombria de águas,
ai, mar, mar longínquo,
mar cheio de algas e peixes,
onde o vazio é só espuma
e as areias são caracóis enterrados
de frio.

O mar não é aqui,
está longe, quilômetros daqui,
mar frio, mar quente,
salgado de pessoas,
de nuvens, mar intranquilo,
tranquilo de rochas, cheio de
algodão e cravos em sua textura.

O mar não é aqui,
o mar, o mar verdadeiro,
o mar eterno, o mar cheio
de sombra e de luzes,
mar amargo, mar de raizes,
mar intenso de vida, mar
seco, mar puro.

Onde está o mar de Itanhaém?
Onde está o mar do meu coração?
Onde está o porto de Santos,
que não é aqui, assim como o mar.
Onde está? Apenas está.

Litoral de Santos


Eu me perdi
no litoral
alguns dias
sem ninguém.
Só eu o amor
o barulho do vento
e o coaxar das rans.
Isso é ser feliz?
Estar e não estar.
Saber sem saber.
Amor por amar.

Orgulho


Orgulho em ser negro,
negro,
das raízes dos cabelos
a ponta dos dedos,
negro,
negro
como a noite
estrelada da pele,
óleo do amor
escuro,
negro,
negro!

Canção africana


África: nome coberto
de desertos e mágica.
Berço das civilizações,
Egito, Quênia, Argélia.
Quantos povos escuros
a clarearem a vida,
com a beleza mais linda,
peço perdão, que beleza fodida.
África: sagrado solo,
eterno monumento.
Raiz de desertos, areia e
ventos.

Espada


Todas as coisas,
pois sim,
do fundo do coração:
a luneta machucada,
as peças de xadrez no chão,
o espelho fragmentado,
os labirintos da ilusão.
Nas nossas mãos
de ferro e nuvens,
iremos levar as coisas
que se movem
mortas no chão:
a vida e seus mistérios
com suas religiões.

Na praia


(ITANHAÉM)
A pele negra da
linda negra na praia
brilhava.
Brilhava como uma estrela.
Mas ela era a mais bela
das
mulheres.
era não: é!
Negra, eu faço ua
descendencia: tu és
descendente da Rainha
de Sabá: e eu sou Shlomon,
e vim aqui para
te amar!

Parábola do amor


Amor, ardente
amor das escamas
dos peixes aos
rios do pavor.
Amor, ferida
aberta, praça
colhida de flores,
ramos de dor.
Amor, flecha,
espiga, fogo, calor.

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Não sei dizer

Não sei dizer
algumas coisas
que gostaria
de dizer.
Por isso as vezes
fico sem escrever.
Levou semanas,
dias, anos, até
eu conseguir me
por de pé
e começar um novo
poema, concreto como
um prédio.
Poesia, não parece,
mais é semelhante
a engenharia:
planta-se palavras,
colhe-se versos!

Do amor


Não movo minhas mãos
sem te tocar com nada
sem te querer com tudo
o que minhas asas possam
ter, sem respirar seu coração,
sem mastigar seus beijos de pão,
sem sentir o cimento vivo dos peitos
duros, diretos, concretos como
as calhas molhadas pelas chuvas,
nem toco os teus olhos com
os meus dedos de algas sujas,
respirando o teu perfume de
borboleta, colhendo tuas pétalas,
vendo os teus pés, ai raízes,
deslizando pelas ilhas,
subindo no mar um delírio,
dando ao céu um desejo
de eternidade que não existe,
construindo um coração feito
de ancas, nádegas nuas, cristalinas,
onde tua boca é o mel da terra,
e o teu nome é a silhueta do espelho,
e o amor existe, e o amor é,
e tudo respira vida, movendo as
asas dos aviões, o trigo, a boca,
e o amor, relâmpago marinho, ilumina-nos.

Meditação


Esse céu azul,
sem luas imensas,
sem estrelas brilhando,
com as nuvens
mais bonitas que
existem no estado
de São Paulo.
Explica-me, céu azul,
imóvel solidão,
silêncio imenso de Deus,
por que tanto sofrimento
dentro desse
jogo de tabuleiro?
Ai, quantos lugares,
mesmo assim, como
você e eu, estamos
aqui presos nesse
mundo imóvel, cego,
ateus.
Ai, céu, azul, intenso,
sem luas imensas,
sem estrelas brilhando,
do outro lado do xadrez
a rainha vence o rei.
O rei está morto,
e nós dois andamos
mortos pelas ruas mortas
onde pagãos erguem em
suas esculturas seus deuses
silenciosos.
Por quê?
Porque o mundo passa.
Só as palavras de Cristo
é que ardem. E só elas,
ficarão.

Apócrifo de Greyt Limene


  -Isso é um teatro? Não é?
Fechem as cortinas. Dance a morte.
 E as estrelas sem brilho? Que brilhem.
Quando? Sempre!

Bairro marinho



Ali está o mar
e ali estão as casas;
um bairro marinho,
eu diria, com poucas
palavras.

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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Tu e eu


et in arcadia ego

Estamos tu e eu
dormindo, com sono.
Flores passeiam
pelas nuvens de
ferro que choram.
Estamos tu eu,
e sonhamos.
Telescópios refletem
espelhos vazios,
planetas imoveis.
Por quê dormimos
se o sol paira em
nossos olhos queimando
as palavras que escrevemos?
O nosso amor pulsa
como um peixe.
Tu e eu escrevemos.
Somos a existência.

Dona da minha vida

Novinha Dona da minha vida MC coitadinha Toda peladinha Safadinha Vem no beijo Vai de quatro Meto mesmo Sou safado Minha linda Manda no meu coração Ela é rainha Gostosinha Esnoba não.

NÃO PENSE EM MIM COMO DA ÚLTIMA VEZ


Não pense
em mim como dá
última vez.
Naquele tempo,
sua voz era suave,
parecia o vento
percorrendo as ruas,
deslizando suas mãos
pelos buracos,
pelos lábios,
onde o pensamento
era apenas palavras,
e nosso coração
batia junto como
mil leões, tigres
nas savanas mortas.
Não pense
em mim sem mar,
sem o ar das ondas
de Itanhaém percorrendo
o teu corpo, teu seio escuro,
teus olhos rasgados como
borboletas nas cercas perdidas
pelos campos esverdeados.
Não pense em mim
sem pensar em meu rosto
destruído pela fadiga e pelo cansaço
de cada dia mal e obscuro que
encaramos, tu e eu, como dois
guerreiros, como duas espadas.
Você, fêmea, bela e oculta como as flores,
e eu, macho, dominador de pratas e tesouros.
Pense em mim como sempre pensei em você:
no instante eterno do presente vindouro!

SAÍDA DO EGIPTO


Para onde Moisés
vai com esse povo?
Estão saindo do
Egito, são sete da manhã em ponto.
-Estão vento os gritos de faraó?
Deus os libertou com mão forte, não foi?!
Os israelitas marcham
cantando algo em sua língua.
Futuramente irão chamá-la de hebraico.
Moisés vai na frente,
os levitas os seguem por de trás.
Para onde vão?
Para a terra dos seus pais.
Canaã, não é habitada?
É a maldade que a faz ser dada.
Os hebreu encurvaram o mar.
Agora estão cantando a Jeová.
Não diga esse nome em vão.
Todos a circuncisão!

Não nos querem


Amor,
não nos querem
juntos,
nem unidos,
nem afastados.
Todos os dias
são os mesmos,
todos os amores
valem o mesmo
preço: perfume,
suores e beijos.
Amor,
não nos querem
juntos,
nem pobres,
nem ricos,
nem com a distancia
nos unido tanto.
Esse amor, o nosso,
é fruto da imaginação,
é real, físico,
queima as mãos dos
curiosos.
Amada, não vê
a lua que surge no
canto do mar?
Não vê o pingente
de Deus brilhando
no céu?
Amor,
não nos querem aqui.
Por isso só tu e eu, amada minha,
somos, seremos algo
nessa terra maligna.
Porque amada minha,
o nosso amor nos quer
juntos, unidos,
abraçados um ao outro,
pela flecha do coração cansado.

Futuro


Não são os meus
olhos que te veem
com outra sombra?
Encostado de luz
vou caminhando
por uma terra suja.
Onde está o raio?
O beijo? A chuva?
Não existe mistério.
Pra você, a teoria
é clara como o río.
Chegou o fim do mundo.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

SUBSOLO


Não somos nós dois
a existência de duas faces?
Não vá embora, coração,
o litoral está estrelado.
É tarde.
Você se foi,
como dizem por aqui,
para o outro lado.
A morte não assusta.
Não vá embora, coração,
o amor adormece tarde!

Como o rico ocioso



Um, dois, três, quatro,
estamos desempregados.
Não ouvimos, durante todo o mês,
na fábrica, o som do martelo.
As ferramentas são frias, esquecidas,
a ferrugem irá comê-las.
Vamos dar uma volta nas ruas
e passar o nosso tempo sem trabalhar como o rico ocioso.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Nome


...
Foi o seu nome,
não sei quantos quandos.
Parecia uma pombinha rosa,
cantando além dos campos.
Pousava as mãos nas minhas,
beijava minha boca com a sua.
Juntos amamos o amor,
o pó e o mel das estrelas nuas.
Até que o frio da noite nos aqueceu.
Por algum tempo quis me esquecer.
E foi nesse momento que
o nosso amor se reviveu.

Ella


Ela partiu,
companheira sombra,
com o sol nos cabelos
e a lua nos dois seios.
Partiu. Não disse adeus.
E o meu coração sofreu.
Ela, que tinha a boca
mais doce e delicada,
o mel vivo do amor,
do amor que é chama ressuscitada.
Ela, que já não entra
pela janela aberta, sem chamar.
Ela partiu, nua e beleza.
Morreu no fundo do mar.

SETEMBRA


Beijo, amada minha,
o teu coração de vinho,
e suspiro pelo caminho.
No fundo da tua boca
o morango do amor brota,
iluminando o suco dos beijos.
Amiga, olho o céu azul dos
teus olhos tão claros, fixos,
e conto o infinito inteiro
amando o teu corpo,
beijando sua formosa boca.

No mar


ungaretti

-Bom-dia, amor,
é o mar cantando
suas águas de
ondas.

Antes


Ela me olhou,
e veio o vento com bocas de prata.

Ela me olhou,
e veio pombas em forma de latas.

Ela me olhou,
estrelas cantavam tão alvas.

Enquanto ela me olhava,
o mundo inteiro explodia em gargalhadas.

Ela me olhou,
e a sombra do relógio decretou seis horas.

Ela me olhou,
e os marinheiros negros cantavam.

Ela me olhou,
e o espelho rachado refletiu a túnica da rosa.

A morte


Morte dura,
morte de canhões,

morte, onde o teu
riso gélido de cristal

repousa? 

Na crista dos galos
ou no acorde irritante

dos violões?

Luas


Luas de marfim
pelo oriente ferido.
O vinho da sua
cor é a mancha
branca dos lírios.
Luas, nobres e extintas,
físicas do céu escurecido,
manchas de astros
esquecidos no cosmo.
Luas belas, luas brancas,
ancas do universo,
raízes dos pequenos
insetos de Deus.
Luas, líricas, vacas
redondas, queijos
agrestes, celestes,
empenhadas a dormir.

De onde vem esse vento

De onde vem esse vento,
essa maré de ritmo lento.
Águas densas e imensas,
fonte necessária
dos bosques errantes.
Se a luz ecoa o brilho
desse ruído forte e vivo.
Cores da natureza sem
forma, sincera, viva,
intensa e morta.

Divinas emoções

para olga savary

Não é um passado bom o nosso
Por que o tempo insiste em ser o que não queremos
Por isso as ondas não se importam com as horas
Nem com as tristezas do momento
O nosso coração insiste em ser o que 

não é em querer o que não se tem em desejar o que se quer
Por isso o presente se perde
E o passado arde como fogo duradouro
Chamuscando o nosso futuro com
Divinas emoções

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

NÃO É TEMPO DE VERSOS



Não é tempo de
escrever
versos, ela, minha
amiga, me grita,
enquanto eu leio
para ela, poesias.
Não é tempo de
nada, minha cara
camarada.
Não é tempo de
protesto, nem de
festa, não é tempo
de chorar nem de morrer.
Não é tempo de
escrever
versos, porque as palavras
já não dizem nada.
Mas amiga, Schopenhauer
disse as coisas imprecisas.
Não é tempo de
escrever
versos, mas a caneta
não escuta a ordem
dada pelas colunas.
Amiga minha, só posso
existir criando rimas!

QUESTÕES



Quais são as questões
de hoje? Dizei, amiga minha.
As contas, o mar, pedrinhas
de areia, luz, energia.

O vento quer sussurrar suas
questões de madeira,
o sol, desperto e triste,
senta suas flechas de luzes.

Do outro lado do oceano do espaço
as estrelas morrem
sem se importarem
com a vida de ninguém.

Quais são as questões
de hoje?
Melhor deixar o nada
responder!

A espada


Estou pálido,
estás pálida, coração.
Em que direção irá
a flecha manchada
de vinagre e sol?
A lua é uma foice
escurecida de amarelo.
Foi ontem. Já acabou.
Hoje o dia é embaçado
pela janela de prata;
Pode abrir a porta,
ir trabalhar com todos os trabalhos.
Não somos todos escravos?
O coração sabe a resposta
e não responde nada, sempre dizendo tudo.
E por fim as cortinas se fecham.
Estou pálido, coração,
e ela está tão pálida!