quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Dia-a-dia


Uma breve luz estranha,
pálida, embaçando o céu.
Cores sinistras, laranja e cinza,
colorindo as nuvens como véus.
Embaixo da cicatriz da terra
um espelho quebrado reflete
um denso arco-íris, um ponto final.
É a imaginação? Ou é a vida e o seu
espetáculo natural?

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

EU OUVIA


Ah, eu ouvia sua voz,
deslizando na noite,
cortando o horizonte,
afundando o navio,
findando o sol de luz.
Sua pura, sua doce voz,
cortando o ar com pequenos
fios, imitando os pássaros,
sendo e não sendo o fim
e o começo, o tempo e o espaço.
Ah, eu ouvia sua voz,
sua voz, sonora voz,
em meus ouvidos absoluto,
porque sua voz era todas
as notas que Deus criou.
Ah, sua voz me acompanhou
na rua, no céu, no paraíso,
nas odes perdidas que fiz.
Que pena é não ouvi-la...
Ah, agora sua voz é
uma nuvem passando,
passando pelo frio,
deixando rosa o campo.
Ah, eu quero ouvir sua voz,
antes de partir, antes de não ser,
antes que o amor chegue em
nosso olhos, boca, perna, braços.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Chuva com sol


Um certo olhar oblíquo 
percorre nuvens
 tão distantes.

Cobrindo o céu com 
vibrações fortes, 
calmas, vibrantes.

Gotas caem, pousando
suavemente no corpo.
O cheiro que sobe

é de terra molhada.
 O sol, brilha raquítico.
 Esfera, desusado. 

O verde intenso e vibrante do campo
se perdeu.
Só duas cores mancham a paisagem:

-o branco, forte e suave das gotas.
E o invísivel vento, cor de nada,
pingando. Pingando sem parar.

Que belo brilho,
envolto no vento.
Um frio suave percorre

 o sofá, de um azul intenso.
No canto, a tartaruga sossegada
descansa. 

Nada disso dura
para sempre.
A noite cobriu

o véu, em silêncio.
Outra paisagem


para ser admirada.

O sino do dia

O sino do dia
Então soou
o dia.
E era a noite,
e era a vida.
E era o dia
e era a morte.
Como coisas
tão parecidas
podem se beijar
com luas tão empalidecidas?
Soou o dia.
Foi o ontem
se aquecendo,
morno e suave
como o sol
sendo enterrado
nas nuvens.
Soou o dia.
E era a noite,
e era a morte.
E era o dia
e era a vida.
Lembra?

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Exaltado seja Deus

Exaltado seja Deus

Quando as coisas
melhorarem,
que Deus seja exaltado.

Quando todas 
as tempestades passarem,
que Deus seja exaltado.

Quando o mudo
passar e as dores se forem,
que Deus seja exaltado.

Explicando o amor

Explicando o amor

Se me deixarem
explicar
            um pouco,

deixo o verso
dizer o que não sei
dizer
de "novo".
           Espero
que a noite
não 
dure tantas
estrelas; ela,
tão bonita
e oriental,
seria
exatamente,
mais poema.
                      Por fim,
         deixar que o amor
        se explique:

-te amar é
um sonho;
profundocomo
o mar; oceanos.

Vou explicar,
mais uma vez:
-Cantar vale celebrar;
-Celebrar vale te bem
                        querer.

Demonstração

Demonstração

Escrever, de modo geral
ou de outro,
é dizer cenários,
casas, rumos,
mapas.

Deitar o oceano
dentro da folha branca.
Eis o seu dever poeta.
Me disseram pelicanas.

Mas eu duvido
dessas coisas peculiares.
Escrever é a geografia
da vida: anotação
da alma, ritmo das
coisas; como,
veja a textura
daquela caixa,
ou, note o 
sentimento da mágoa
sendo engolida
para que a
lágrima não
pouse na fê
nix
rosto.
Estrofação correta.
Lembrando que "não sei escrever", porém
                                                           tento.

E por fim
pôr no papel
tudo e nada.

Improvisar.
Isso seria coisa
de jazz, não é mesmo?

Os poetas escrevem
e não recebem.
Nesse país de luto,
escrever é um estado natural, bruto.

Santo Rei

Santo Rei

Deus reina. Celebrado é
o seu nome.
Jesus é o fruto da
justiça.
Glória a Deus.
Glória a sua Sabedoria.
Louvado seja Jesus.
Aleluia. Glória a Deus
                    e a Jesus.
seu Cordeiro Santo
(nosso Rei e Deus nosso).

O peixe


Até quando
eu te dizer
coisas bonitas
que valham a
pena?
A pena de
escrever no
espelho o teu
nome marinho
tua boca de
cigarra teu ar
de chocolate
suspiro.
Valeu a pena
te amar?
Tudo vale a pena
se o amor é um poema.
Desculpe
estar atrasado.
Sou um peixe.
Só escrevo coisas
belas.

domingo, 26 de novembro de 2017

A cor,




a negra cor,
  favorita
dos poetas.
Vestes pretas,
chapéu negro,
capa escura.
Lembrando a escuridão da noite.
A
 imaginação abrindo suas asas.
Emocionante.
A negra, a preta cor.
Cor escura: a mais bela cor.
(muito superior a cor branca da lua).
Negra cor das palavras. Um vento escuro.
A beleza da cor escura. Amor.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Orquídeas

estão penduradas nos
fios elétricos, condução
de energia, perplexo
envolvimento de planta,
ser imóvel ao rasto
humano das fontes químicas.
ópera do sol e da chuva no
frio, transbordaria a casa,
a praia, o chão. Ou qualquer coisa
que não fique grudada. Mas será só aqui
que ocorre esse fenômeno? 

A tempestade se aproxima


Uma tempestade
se aproxima.
Clara de raios,
escura de nuvens.

A cor do carbono
impregnou as plumas.
Um olho no céu
e o outro olho na
                           terra.

Coisas são obscuras.
Soar do chão molhado.
Trotas de gotas.

Tensão tão pura.

A AMIGA NO ESPELHO


Qual a cor dos olhos dela?
Aquela cor de jade leitoso.
Era essa a cor do seu brilho?
Ou foi a imprecisão dos detalhes que
                                      nos ofuscou?

Um relâmpago azul partindo o céu.
Duas nuvens altas nos degraus altos.
Três pássaros de cores embaçadas.
Quatro suspiros e nada mais.

Mas qual era a cor? Brilhante?
Tão reluzente. Como o céu é azul.
Todavia camuflada no amor. 

ACUSAÇÃO,


você bem pode imaginar o verso
acusado, metaforicamente, de barroco
                                                  jarro,
                                                         indecente.

Mas se você não é culpado,
não faça nenhum caso.
Suspire por Deus sempre.
                      Não leve a sério
                      o que esses (como 
                      é mesmo o nome?)
                             dizem por dizerem.

Agora tente
por os pensamentos
no livro e encontre
a palavra certa.

Qual era mesmo a 
palavra correta?
Deus faça tanto contra os inimigos de David.

Linha exata

linha se perdeu
por alguns instantes,
-foi o lento reflexo
do espelho do céu.
A agulha oscilando
dentro da bainha
fixa, atravessou
os olhos noturnos.
Vê o norte, o sul.
Ambas coisas juntas
se tornam desconjuntas.
Liberamos o espaço,
e a tempestade se desfez.
Os lábios estão feliz!

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Resposta

Resposta
Aquele vazio de prata
estampado no céu.
Era a lua, debulhando
suas lágrimas de mariposa?
Que motivo teria tão importante
para brilhar sem se importar
com o espaço se movendo,
expandindo seus horizontes?
Aquele vazio de prata
estampado no céu.
O que refletia? Uma estampa
embranquecida no meio do
poente negro, escurecido do céu?
A lua repete para sí mesma,
"sou o que devia ser".
As estrelas rodopiam, rodopiam.
E as lagriminhas criaram asas,
brancas, negras, verdes e amarelas.
E voaram pelo céu,
escurecidas, livres.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Teoria

Teoria
Veja aquela nuvem se perdendo.
A nuvem vai sumindo pelo vento.
O céu, azulado de escuridão,
estampa estrelinhas claras,
pálidas figuras piscantes.
Desapareceu a nuvem. Algumas
estrelas também. É a conclusão
da rotineira vontade de estar
e não estar. Por fim sobrou o
vento: prático e inconstante.

O galo

O galo
Ouço o som estridente
que soa contente
vibrando no ar ausente.
Um galo soa solitário
no fundo do campo
soando tão alto.
Não há quem aguente
um sol eloquente
de um som tão contente.
O galo repousa só.
E não há quem lhe tenha dó.
Canta, mais canta com outros.

domingo, 19 de novembro de 2017

Um espelho

Que espelho
formidável, deste.
Refletindo dois
seres em um só
angulo, em um só
traço, de oeste.
Formidável
aparência de
relâmpago reflete.
Que espelho
formidável, deste.
Com um pouco mais
de sinceridade,
poderíamos jurar
que banhando os
ferros que o sustentam
há ouro, ouro maciço.
Mas eu e você
não somos tolos,
como os tolos
e suas idiossincrasias.
Que espelho
formidável, deste.
Repito com o coração
na fonte.
Irmão, que espelho é
esse? Não reflete minha
face jovem, nem minha
face velha se reflete.
O que aconteceu com
a vida? O que aconteceu
com a morte?
QUE ESPELHO
FORMIDÁVEL, DESTE.
Há um sorriso que pulsa
nesse espelho, atravessando
minha alma (não a sua, não,
a sua ficou no lado esquerdo
do paraíso do meu peito).
Que espelho
formidável, deste.
Posso ler nele
as rachaduras celestes.
Por acaso o meu olho
ficou do outro lado?
Não, porque sou um.
Que espelho
formidável, deste.
Quanto custou mesmo?
Todo o peso da
beleza arremessada.
Que espelho
formidável. Observe!

No Telhado

Viu as nuvens encaracoladas
de branco como as estrelas?
Não era hora de almoço?
Mas o que faziam meditando
o vento e o calor juntos nas telhas?
O chão parecia vibrar
de emoção, eu acho.
Uma colher torta bem
que poderia cavucar esse chão molhado.
Espere. Não estamos vendo as coisas
por cima do telhado?
A mesma impressão:
o chão molhado parece
vibrar de emoção, eu acho.

canção

olho no céu e sinto crescer a fé no meu Salvador!

Jesus Cristo,
Jesus Cristo,
Jesus Cristo, 
eu estou aqui !

😌😇🤗

O labirinto

O labirinto

Cada porta tem um encaixe,
cada fechadura leva a uma
nova fechadura, a outras dobradiças.
Por cima vemos o lado direito.
Por baixo prosseguimos pelo lado esquerdo.
E dá no mesmo. Porque o lado direito
e o mesmo lado esquerdo
são a mesma parte da
fechadura destrancada.

Quem ergueu esse muro
suave? Um mouro ou um cristão?
Deve ter sido difícil trazer
em um camelo os espelhos
para refletir esses tijolos feios,
esverdeados como o lodo das
árvores.

Mas é uma bela construção.
Algum rei viveu por aqui?
Ou somos todos reis, mesmo
com essas fachadas de turistas?
Mas não estamos vendo nada,
a não ser pela câmera cinematográfica.

Não dá no mesmo? Observe essa
espécie de monumento: 
do lado direito, temos as cores negras,
e no lado esquerdo, umas paredes horrendas,
pintadas de branco, manchadas com algo
verde, refletindo o musgoso das rochas.

Temos que tomar cuidado
com cada escada. 
O arquiteto e o engenheiro
quando foram construir o labirinto
discutiram muito, e decretaram
sem nenhuma cerimonia
que cada porta abriria novas portas,
e cada escada levaria para novas escadas.

É possível discutir a eternidade
com pessoas tão mesquinhas e frívolas
quanto as pessoas dessa miserável cidade?
Imagino que não. Porque o labirinto 
nos revelaria essas questões,
afinal não foi num labirinto que tudo começou?
Não. Foi em um jardim chamado Éden. Tinha me esquecido.

sábado, 18 de novembro de 2017

O ESPELHO

O ESPELHO
Há uma lua brilhante no espelho
que está imóvel na comoda ao lado.
Centenas de estrelas estão brilhando
acima de nossas cabeças,
=Isso significa algo? Porém
a lua é um poço de prata
refletindo a madrugada.
Um detalhe faz toda a diferença:
nenhuma estrela pode traduzir
em palavras as angustias de ver
uma cidade tão bela, tão esburacada.
A terra está girando, girando,
milhões, milhares de quilômetros.
Bem em cima da cômoda a lua
reflete sua face com pouca cerimonia.
Se levantarmos a cabeça para ver o
céu nesse instante pode ser que o
escuro preto nebline nosso olhos.
Não irá trazer o sol uma luz menos
suave do que essa da lua?
Uma lua, centenas de estrelas.
A noite negra é tão bela, convém
anotar isso em um caderno para não esquecer.
Por fim o espelho e a comoda dialogam sem palavras.
A lua continua emburrada, vendo a terra girando, girando.
Imagine cem milhões de anjos. Agora é sonho!

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Por fim

Por fim
Quando os seus cabelos negros
passarem de luas negras à luas brancas,
talvez eu não esteja por aqui,
nem meus versos te encantem.
Sempre irei relembrar a espuma do
seu perfume me aquecendo o dia.
A beleza dos seus lábios sobre os meus!
Que métrica poderia conter essas coisas?
Mas você não irá olhar o espelho.
Que deveras, estará quebrado. Escondido.
Nem irá olhar a minha fotografia dentro
do livro. Presente guardado.
No retrato e no espelho, os dois
estarão juntos. E juntos estaremos.
O livro, o espelho, a fotografia,
meus lábios em tua boca, seus cabelos negros
incendiando o dia e a noite de uma
escuridão serena. Então o tempo irá
temporizar essas coisas.
E o amor, brilhante concussão,
irá rachar o espelho, queimar a fotografia,
envelhecer os cabelos,
deixando minha boca (e a tua, escrevo), sozinha!

Maçarico da chuvarada

Maçarico da chuvarada
A chuva lenta cai, tornando-se mais
forte com a medida das gotas.
A fusão das gotas com o chão
gerou um cheiro forte de terra, agradável.
Agora é o vento que chia,
querendo deixar sua marca imprescindível.
As gotas, formas líquidas, compõem
a direção do vento, tombam ao chão.
Que belo momento! É agradavel
ver o calor se condensando em frio.
A água gerou esse tipo de espetáculo,
surpreendentemente único.
Um pequeno lagarto foge
pelo muro, enquanto as gotículas
tornam-se cada vez mais grossas.
Um relâmpago corta o ar, e o estrondo
de um trovão nos recorda
uma bela frase: têm algum espanhol
casando. Afinal, o sol não sumiu,
mesmo escondido pelas nuvens.
O espetáculo da chuva se
encerra sem nenhum aplauso.
Cumpriu sua função, sua lógica
natural. Aguardamos com atenção
até a vinda do próximo espetáculo!

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

iluminação

há momentos em que Deus nos dá música para nos iluminarmos! 

Mel

Mel
Que mel era aquele
escorrendo da árvore
da tua boca?
Se o vento deixava
uma música!
Tenho certeza que
a folha esquecida
no chão beijava a
areia.
Só o líquen da rocha
guardava tal conclusão:
era o mel do amor da vida.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

A FORMA DO AMOR

A FORMA DO AMOR

A forma do amor
é tua forma de lírio.
Boca vermelha,
seios alvos de luar.

A forma do amor
é uma canção sentida.
Nádegas lisas,
inspiração da noite.

A forma do amor
é o reflexo dos teus olhos.
Olhos escuros,
fonte do desejo da vida.

Espera

Espera

Espere. E esse frio
que cobre a alma,
o que será?
Plumas, plumas,
plumas de ventos.
Ai, sofrimentos.
Espere. Estou vendo
as páginas da bíblia
escritas em hebraico
na cabeceira da minha
cama. O Eterno me ensina
sua paz. 
Espere. Quantas mariposas
estão valsando no frio
enquanto escrevo poesia
agasalhado por um calor insuportável?
Espere. Findou tudo. Os livros estão
na estante. Minha alma está lavada.
Obrigado, Senhor Deus, é nossa obrigação
cantar seu filho Jesus em versos.
Espere. E esse poema?

Bíblia

Creio eu na bíblia, o livro do meu Deus!
Para mim a Bíblia, é o maná do céu!

terça-feira, 14 de novembro de 2017

A flor

A flor 

Uma flor murada por um jardim.
Pétalas derramadas, brotando por
suas raízes morenas, selvagens.

Um pequeno vento colhe os seus
gemidos com doçura, quase apalpando.
O cheiro doce, matinal, da flor,
ergue-se, querendo perpetuidade.

É só momento o que resta.

Apócrifo de John Donne

Apócrifo de John Donne

(paraíso)

Do outro lado do paraíso
 existe uma outra face:
um espelho,
um ser dividido.

A face do outro lado
é uma lua minguante.
Triste olhar de um
pequeno pássaro aflito.

O voo silencioso 
do espaço até a nuvem.
Um canto melodia 
o muro. A erva, seca.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

SOZINHO

SOZINHO

A água, azul-marfim,
é a figura da mulher,
a ave que sozinha canta.

 Um som se expande,
noturno e calmo.
São as rãs acasalando,
no friento charco. 

Mas daqui a trinta anos
tudo estará destruído:
não me lembrarei dos

teus olhos azuis,
nem da prateada lua,
nem do balão ou da bolha
de sabão invadindo o espaço.

                                        [nua...

Próxima carta

Próxima carta

...com amor...

Seria a cereja de tua boca
tocando a minha? 
Só importava você para mim,
e eu me esqueci que a rua
era uma calçada feia, suja.

Ainda vejo o jardim em que
te fiz sorrir, seu riso oriental.
Ele continua lá, verde, com
aquelas folhas e flores que
não posso nomear porque
não me ensinam a dizer...

teu nome...
eu queria dizer o teu nome
desesperadamente,
dizer que te amo, que te amo,
dizer, te amo, te amo, te amo,
minha kawai, minha japonesa.

Minha? Ou eu sou seu?
Estou preso aquela rua,
aos teus lábios tão puros,
preso a uma lembrança
dentro de mim. 

É a cereja mais pura,
toquei minhas mãos.
Saber que você existia,
valeu apena existir.

(ISSO É TUDO!)

Manuscritos

Manuscritos

Manuscritos, perdidos,
manuscritos, queimados,
esquecidos nas gavetas,
perdidos nas caixas,
molhados, deixados.
Manuscritos, letras
rústicas, feias, belas,
letras infantis, rabiscos,
teclados de computador,
teclas da máquina de escrever
enferrujada, velha, abandonada
no meio do quarto cheio de quinquilharias.
Por fim o manuscrito final, o dito cujo.
O manuscrito, o único, aquele que ficou
exposto ao sol, aos olhos, ao povo.
Não é esse o resultado final? Os livros!

Sem final

Sem final

Lembre bem, esse é o  
meu verso, meu último verso.
Não, esse será o primeiro,
o primeiríssimo verso.

Pulsando como um peixe,
nas palavras-grisalhas,
nas palavras-juvenis,

jovens palavras feitas de cereja,
palavras espumosas como o mar.

E se puderes recitar esse poema
sem nenhum lamento, então poderei concluir ele sem o final que imaginei.

Apócrifo de George Herbert

Apócrifo de George Herbert

Escuta esse som:
é o vento correndo
pelo norte, galopando
pelo sul poente meige.
Escuta esse vento.
Não pode ser a nuvem
vermelha indo para o
outro lado, carregando,
quem sabe, suas gotas
mornas, que ao tombarem
na terra e no nosso corpo
se torna frio, neve.
Camuflante som.
Que será isso?
Ruído de tempestade,
voz de sino? Ventilador.
Escuta esse som:
é o vento sem saber
o nome de tudo o que
nos comove, antes do esquecimento.

Tempestade à vista




A luz, vaga e incandescente,
fluiu pela janela, imitando o som
noturno e triste de um 
relâmpago quieto, assustado.
 O céu pousou no vidro
em forma minúsculo de gotículas.
Dissipou-se a claridade do céu azul,
perdemos, como se diz, a branquidão
das nuvens cheias.
Explodiu o som até o chão.
São dois espetáculos a serem
apreciados com atenção: a constante
melodia da chuva que insiste em beijar
a janela fechada, e o som dos trovões,
barulho ensurdecedor.  

sábado, 11 de novembro de 2017

A vida, saúde!

A vida, saúde!

A vida, a vida, saúde!
Saúde, saúde, a vida!

Aqui está o pai que eu tentei ser!
Aqui está a minha esposa tão linda!
Cante, saúde, a vida!

A vida, para a vida, saúde.
Saúde, saúde, para vida.

A vida tem uma maneira de confundir-nos,
Cantemos, cantemos, saúde, a vida!

Deus gostaria que fôssemos alegres,
Mesmo quando nosso coração está no chão.

Podemos sempre ser alegres!
Quando há  algo realmente para sermos alegre?

Saúde, saúde, a vida!
Para minha filha, a vida, saúde.
Para minha esposa, a saúde, a vida.

Isso nos dá algo para pensar,
Algo sobre o que trabalhar.
Cantemos, cantemos, a vida!

(sons hebraicos) 

Saúde!