quinta-feira, 29 de setembro de 2016

O poeta se defende contra os elementos exteriores


                                         -The innocent and the beautiful have no enemy but time.
                                                                                   -w.b. yeats
Olhando para a imortalidade
com a cara mais natural possível.
Vendo, com os olhos novos
e enrugados de prazeres,
um por do sol um surgir de
lua.
Esse luar é tão triste, tão triste
que parece que estou confundindo
minhas lágrimas com essa brancura
pálida e triste.
Olhando, olhando as coisas
imóveis e tentando apreender
o momento: a luz do sol não pode
me queimar, mais me queima.
Por que as estrelas não
fazem isso?
Olhando para o tempo dentro
do relógio. No olho do gato
os ponteiros e as mágoas
são as mesmas coisas.
De duas só uma coisa
importa: pensar e recordar
na morte. Não na morte
dos outros, mais a nossa
própria morte, nosso próprio
foi-se.
Ai, chega de intranquilidades
e coisas mundanas e sem
sentido. Que os meus passos
possam ir para além de tudo
isso.

Resultado de imagem para relógio quebrado
foto: ilustrativa

A imaginação das lágrimas


Em teus
olhos algumas
gotas escorrem
(ou são sapos
imaginários
no teu jardim
no teu paraíso?).

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Do grão-de-açúcar e de uma Mesquita


Do reflexo do muro
dentro dos teus olhos.
A luz solar inclina-se
como um pêndola imóvel.
O olho de dentro pode
ver a forma e a forma,
a dúvida e a incerteza.
Duas cores: branco e negro.
Raiz viva e imóvel como
a arquitetura. Dois objetos.
Duas refletidas frases.
Brancura, imóvel das duas.

foto- ilustrativa

domingo, 25 de setembro de 2016

A eternidade

                                                                para marianne moore

A eternidade só pode
seduzir corações
fracos. Eternidade
é como a pena
branca de um
cisne enlutado.
A eternidade é
um tema apócrifo.
Aliás, que raios é
isso de eternidade?

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

simbologia


O coração é uma fonte transbordante
de significados insignificantes.
Eu sei disso por que um dia eu vi
a lua refletida no copo de co-
ca-cola. Então tudo fez senti-
do.
Mais veja a pedra parada ou
afundada dentro das águas do
rio. Ou, veja o pássaro que voa
negro sobre o céu azulado.
Ou, veja os carros indo
em direção a lugar nenhum
com a intenção de chegarem
a alguma parte.
E então saberão
que tudo pode ser descrito.
Até o sentimento mais aberto
pode ser contido.


Cartão postal para ela

Ver
 o brilho do sol
  alaranjado
pode até
recitar (não
sem enjoo)
 um por-do-sol.
 A poesia, a pe
 dra, o pedaço
de papel, o pelo
 do gato branco
 que passou pelo
portão. Tudo isso,
 além da escama-viva
de uma enguia morrendo,
 não
saberá o que foi ver
o brilho amarelado
 definhando
e escurecendo.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

internet

Eu sei:  não há
tudo.      Mas
 não será isso
 o ponto da ignorância?

O público

$ O público $
(por mais natural que pareça)
faz parte.
Não se dá
um centavo
ao espetáculo
marinho ou 
solar.
Alguns
peixes
espadas
bem que
poderiam
guerrear
como eu-
ropeus por
impérios
malucos.
De certo,
a arte (ou o público,
por mais natural que
pareça), redime.
O que será que se
redime o que não
se redime, como a
batalha de algun
peixes?

(dedicatórias)

Dedicatórias


   Postulo a palavra
  -mesmo que o 
  vento mova sílaba
    por sílaba
           como
                    u
     ma 
          e 
       s
     c
  a
    d
       a.


segunda-feira, 19 de setembro de 2016

CATADIÓPTRICO

CATADIÓPTRICO


[1950]

Este é o relógio quebrado.

Este é o relógio quebrado
que se encontra com o ponteiro avançado.

Esta é a hora
do relógio quebrado
que se encontra com o ponteiro avançado.

Este é o relógio
que tem o momento partido
com um ponteiro quebrado
querendo ter o momento avançado.

Este é o espelho
que reflete o relógio quebrado
que tem o ponteiro avançado
que é o reflexo do momento partido
do homem no outro lado.
.

Este é o espelho quebrado
que reflete o relógio avançado
que tem o reflexo partido
pelo retrato do homem no outro lado
pela voz do comunicado
de que o ponteiro está selado.

Este é o dia e o mês do espelho quebrado
que reflete o rosto do homem no outro lado
que tem o reflexo partido
pela voz do ponteiro selado
dentro do aviso comunicado
que o espelho e o relógio 
são ambos furtados.

Este é o espelho judeu
que reflete o rosto do homem no relógio quebrado
que tem o reflexo  comunicado
pela gritaria do vendedor roubado
que o relógio executado
na verdade não estava quebrado
dentro do selo selado
na marca do relógio no outro lado.

Este é um mundo de espelhos quebrados.
Este é o homem judeu do outro lado
que segura no pulso um relógio selado
que na verdade não estava quebrado
dentro da gritaria do preço ofertado
pelo vendedor enciumado
que oferecia um relógio quebrado
que refletia o espelho do carro
com reflexos velozes e rápidos.

Este é o menino curioso no espelho selado
vendo se o mundo tem relógios quebrados,
lendo aliviado os judeus publicados,
sorrindo enciumado para o vendedor bravo,
olhado a janela refletida do carro
os anos e os dias do passado,
marcando as horas
com um ponteiro avançado
gritando como criança
para o pai no outro lado.

Este é o pai e o menino enciumados
quebrando um espelho rachado
acenando para alguém no outro lado.
Este é o relógio quebrado
vendido pelo vendedor bravo
que anunciava seu preço alto
quando apareceu um comprador
que perguntou se o espelho rachado
poderia ser concertado e emoldurado
para que um poeta atrapalhado
pudesse ver o outro lado.

Este é o soldado engasgado
que tem um espelho e um relógio quebrado
que olhou o menino judeu do outro lado
comprando o mundo menos cobiçado.
Este é o vendedor enciumado
oferecendo ao mundo o seu relógio concertado
barganhando com um marinheiro enciumado
o preço do ponteiro do relógio avançado
sorrindo com alegria para o poeta atrapalhado
que olhava as horas no espelho quebrado
que amava o reflexo do relógio quebrado
que era na verdade um catadióptrico emoldurado.

domingo, 18 de setembro de 2016

Eu lembro

Lembro da chuva caindo 
sobre a casa.  Lembro do 
ruído das gotas como notas 
tão lindas. Um dia tão frio, 
um dia tão cheio de neblina.
A casa, a chuva, as flores que

tinha sobre o jardim em frente.
Que cor era a casa? Um tom
débil e gentil de beje. Acho,
na verdade, que era um tom
violento de felicidade e gentileza.
Havia uma dama-da-noite em frente à casa.

O menino pequeno se escondendo 
da avó, fez com que a chuva se
tornasse lágrimas azuis. Azuis,
azuis como o céu ou azuis como
os olhos lacrimejados e azuis também, da avó?
O menino não lembra se chorou...

Talvez ele tivesse chorado.
Mais as lágrimas, como forma de
protesto, quiseram se esconder
na tempestade que caia sobre
a casa com tom débil de beje e
felicidade. O menino se escondeu

no arbusto verde e puro (mais
os olhos da avó eram azuis,
como o topázio azul). O menino
levou uma surra. Na verdade,
foram duas surras: a da mãe,
que não entendeu a poesia,

e a da chuva, que gota à gota,
o feriu de um frio transbordante.
O menino viu a avó chorando.
O menino não chorou. O menino
fugiu como um passarinho e se
escondeu ao lado do arbusto.

A avó misturou as lágrimas
com a chuva, com a chaleira.
A avó era a própria chuva. E o menino sabia disso

paixão todos os dias

Eu sei, é difícil mesmo.
   E mesmo que pareça
uma coisa
assim mesmo
sem significações.
Mesmo assim
o murmurar
da gota da
torneira me
apaixona.

Música



O ar se encheu
de murmuração.
Branco e cinza
se coloriu num
arco-íris novo.
Um movimento
rápido e dinâmico
fez voar asas e
folhas de um
pássaro e de
uma árvore 
com galhos
tosco.

a gaiola

Relógio de pulso
que se encaixa
um ser
ferido
e gravemente
extremo de
       repulsão.
Preso e vivo
ser, indiferente
e incontido.
Imagina
o céu
com luzes brancas como
miragem de oceano com
movimento azulado de luz.

sábado, 17 de setembro de 2016

cotidiano

cotidiano 

- Acho que você deixou em cima da mesa...
- Não deixei não. Tá aqui no meu bolso.
- Então por que você tá enrolando? Já, já começa chover... 
- Puxa, não começa Mia, a me apressar. Eu vou na hora certa. 
- Não precisa ficar bravinho.
- Não estou bravo.
- Você sempre fala isso.
- É lógico! Toda vez é a mesma coisa.
- Da próxima vez eu fico muda. Tá bom pra você?

(...)

-Não quero isso, eu gosto de ouvir sua voz. 

Descrição

Retirando o anverso
do ser observado,
a feminilidade versa
nos seus olhos puxados.

Carregando uma
fina caligrafia, uma
extensa geologia com 
mudançarítmicas.

Qualquer que seja
o lado que veja
em extensa cor,
uma madura dicção

que seja anual,
ou ver sempre o
mesmo retrato, 
refletido no jornal.

reflexo



se tenho o espelho
diante de mim e
o reflexo que vejo
é ouro ou marfim
carcomido de arame

ou o espelho reflete
o outro interior que
tem a pedra lapidada
ou a pedra é um objecto
a mais, exposto

o espelho reflete
o interior externo
de uma criatura
embaçada e perfeita
de imperfeições
por causa do vidro
do espelho se auto-refletindo.

Editorial Vol. 5

Estou na revista subversa -Editorial Vol. 5 | n.º 4 | setembro de 2016 - com o poema Visão fícticia de Iwo Jima. Tá cheio de gente nova e boa. Dá uma olhadinha... ! 

; ) 

capa
para acessar a revista : http://canalsubversa.com/?p=4404
para acessar o meu poema : http://canalsubversa.com/?p=4373

tempestade


Em pequenas  gotas
sentimentais e tímidas
vejo um chão coberto
de névoa e de pássaros.

Não estás ali, nem eu
ali estou porque o tempo
não quis acompanhar
os meus passos de rio.

A chuva vai caindo
lenta e suave, com
tristeza e alegria
na terra transparente 
                                          de azul.

O mar é apenas um arpão


O mar é apenas um arpão
que fere o meu coração.
Nunca vi onda tão espumosa,
nunca vi sal tão salgado,
nunca vi água tão aguada.
Na proa do meu navio 
avisto as praias ao longe.
Nunca vi praia tão branca.

O mar é apenas um arpão
que fere o meu coração.
Ergo as mãos cheio de
algas, puro de nuvens,
enxergo bem longe
algumas mulheres,
mulheres tão lindas,
tão distantes que me
acenam dizendo "adeus".

Adeus, mar, adeus praia,
adeus terra, adeus céu nublado
Não quero mais nada, não quero
menos do que posso possuir.

O mar é apenas um arpão
que fere o meu coração.

domingo, 11 de setembro de 2016

Baía amorosa


Amor, amor meu: é tarde
para contar estrelas...
A noite inteira desejo
vê-las em tuas lágrimas
em teu seio esquerdo
apalpo o mar; em; teu
seio direito, apalpo
o espaço de te amar;
amar, amar, nesse
mundo vasto e sofrido
espirrando versos
que serã esquecidos
quando tu e eu
se deitar
nas águas salgadas
das ondas verdes do mar.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Alma indivisível



A palmeira do meu coração
está dolorida nessa noite
(oh, desculpe-me  por
essas lanças de reclamações).
Quero abrir o meu coração
para que ele se transformasse
em um mar salgado de alegria.
Daqui da janela de casa vejo
ao longe as palmeiras dançando.

Fiquei isolado do sonho e das
casas feitas de tijolo-baiano.
Fiquei isolado como o periquito
dentro da gaiola enferrujada.
Ai, meu Deus, se eu ao menos
soubesse as horas, se eu ao
menos soubesse contar os
imensos carrapichos que 
me pegam pela calça. Ai, se
eu ao menos soubesse por onde
posso alcançar as estrelas cinzas
daqui desse porto cheio de terra.

Não posso deixar escrito com
óleo, nem com tinta, nem
com nada que possa molhar 
os meus algodõezinhos nessa
tempestade longa e severa
que me colhe o coração em
forma de palmeira.

Chegaremos algum dia,
mais enquanto meu murmurio
não te alcança, nem tuas mãos
me tocam na escuridão
ficarei sentado, observando
as estrelas.