domingo, 29 de maio de 2016

Marinha


...
Marinha companheira
de luz, de algas, de palavras.
Envolta em uma luz
suave de onda que se vai.
Chama o meu nome
por cada chave do litoral.
Não tenho presente nem
tenho passado: ando pelo
mar nu e descalço.
Acompanho o teu sorriso,
marinha companheira,
como uma estrela no
espaço.
Marinha como o dia,
marinha vida que se envolve
em teu seio cor-de mar.
Envolto em teus olhos âmbar
juro-te o meu amor, juro-te o meu amar.

sábado, 28 de maio de 2016

Final


Então se foi: pura como a manhã.
E era tão linda, tão triste tão duvidosa.
Carregava nas mãos uma flor
uma flor estranha, semelhante a rosa.
Então se foi: não era nem estava.
Perdia o sorriso quando uma estrela
branca se apagava no escuro negror.
E o vento levava as velas e o amor...
Então se foi como se nunca fosse.
Então já não era, então já não estava.
Finalmente adormeciam os olhos com
gotas pequenas (eram mariposas
em forma de lágrimas).

Dorme navio (acalanto marinho)


...
Dorme navio
o mar balança
a noite é linda
e é fria a esperança.
Dorme navio
que o mundo é grande
teus olhos serenos
minhas mãos pequenas.
Dorme navio
o dia é cinzento
a vida absurda
o amor um momento.
Dorme navio
dorme e sonha
que enquanto balanças
as ondas nos banha.
Dorme navio
que o ar é frio
dorme e sonha
o mundo é grande
e a pátria é distante.
Dorme navio
dorme e sonha.
O cavalo trota
e o vento galopa.
Dorme navio
dorme e sonha.
Que enquanto te
amo aparece uma
nuvem branca.
Dorme navio
o mar balança
a noite é linda
e é fria a esperança

Mais uma canção de mariposas


___________________________
No jardim em pleno inverno
onde tua face não é negra nem branca
onde nenhuma estrela brilha
onde não há frio nem luar
só naquele lugar onde não há
tempo nem segundo, só naquele lugar
onde o absurdo se encontra
camuflado em forma de flores
somente ali tu consegues olhar
o futuro das minhas palavras
azuladas de verde
porque carregas em tuas asas
os meus mais profundos sonhos
ó mariposas, ó mariposas que não voam
mariposas que não são
e que pousam dentro do
meu coração sem direção.
No jardim, naquele jardim, nessa fonte,
naquele destino, naquela ode, onde
li três vezes seguidas o teu nome
ali mesmo formei minha direção
sem vento e sem luar.
Mais uma vez me carregavas
em tuas asas coloridas, ó mariposas
porque eu era uma noite escura
e vós uma lua imensa.

teu nome

Teu nome?
sombra!
Teu nome?
luar?
Teu nome?
medo.
Teu nome?
amar.

Meu rosto sangra


Meu rosto sangra
versos em forma
de mariposas...

Ai, que o vermelho
escorre como uma
estrela se explodindo...

Meu rosto sangra
mais não morre.

Meu rosto se reflete
em todos os bosques
frio da vida...

Ai, que sangra
como um touro
transpassado na
tourada.

Ai, que sangra e
sangra
porque sou a
medida de todas
as coisas que existem
só para mim.

Por isso meu rosto
sem riso e sem lágrimas
sangra rosas e jasmins.

Meu rosto sangra e sangra
como um touro ensanguentado.
Meu rosto sangra
sem presente e sem
passado.

Porque sangras, ó rosto
tão apaixonado?
Talvez, responde-me
sangro apenas
por estar apaixonado.


Canção do dia triste


...
O dia é triste
como é triste
as estrelas azuis
que tristemente
brilham no céu
sem vida e sem cor.

Ai, que falta de amor!

O dia é triste
tão triste que
chega o próprio
dia a não existir.
Ai, que falta de amor!
As mariposinhas roxas
passam pelas janelas
d' minh' alma congelada
de amoras e de flores.


Ai, que falta de amor!


O dia é triste,
como é triste
a passagem do
caracol na chuva,
como é triste o
poeta observando
a cidade de longe
com o vento verde
acompanhando suas
estrofes de amor.


O dia é triste
como é triste
as estrelas verdes
que tristemente
choram no espaço
lamentando minha dor.


Ai, que falta de amor!

quinta-feira, 26 de maio de 2016

poema de cineasta cubista


fazer um filme
com os teus olhos
(sua voz
será a
trilha
sonora).
Aposto
que com
o teu corpo
esse ano
com o filme
do nosso amor
receberíamos
mais prêmios
do que vale
o óscar.

antiode


traço o rabisco
do poema em
estrofes puras
como estrelas
envergonhadas
de azul (as ma
riposas voam
em minhas mãos).

mais a tua voz
como um oceano
me cerca a lembrança
(mais hoje que a terra
é de outro
decreto a moratória).

surge o poema
entre o tédio e o tudo

e enquanto traço
minha anti-biografia
te traço em traços

poesia...

poema da manha



sem olhosem
mãosem motivos
sem dores
sem estrelas:

amanheceu
a nuvem branca
em minhas pupilas

em minhas mãos
um graveto uma
palavra uma melodia
uma formiga

amanheceu
é o dia que raia
é o dia que surge
iluminado pelo sol
(gigantesca espiga)

amanheceu
e a poesia desperta
em meu coração
dolorido de toureiro
de palavras

ai, que amanheceu
menina que amo
ai que amanheceu
mulher que amo
ai que amanheceu
anja que amo

amanheceu
e não há chuva
nem calor nem lágrimas
amanheceu
sou tão pálido
quando o graveto que
seguro

estou imóvel
como uma baleia
sem movimento
estou sem
mar
estou sem
trovão

como vai?
amanheceu...
amanheceu
como uma
lágrima

amanheceu
como uma onda
que se foi

amanheceu
amanheceu
o galo dorme
quem acorda
sou eu

Meu coração dói

Meu coração dói
porque em cada es-
trofe há um movimento
de vida e de terra.

Meu coração dói
porque cada canção
é uma espiga, é um
motivo. 

Meu coração
dói porque vivo e 
insisto nisso.

Voa até o meu coração mariposa azulada



Voa até o meu coração
mariposa azulada
de jasmins e rosas
rubras incendiada
de sangue e de
estrelas.

Porque me vou 
mariposa azulada.
Me vou pela estrada.
Me vou 
mariposa azulada.

Voa com tuas asas
até o meu coração
enferrujado de
oceanos e de mares.

Porque não sou,
mariposa azulada,
porque não sigo.
Porque não existo

mariposa azulada
sem tuas asas
de jasmins e de rosas
rubras 

                                             vermelhas e ensanguentada. 

cigarrinha japonesa

A ti, te amo,
e te amo a
boca oriental,
os olhos puxadinhos
que tens.
Amo o teu sorriso,
amo tua pele lisa,
amo a beleza da
tua nudez que tens.

A ti, te amo,
amada minha,
e te coroo com
rosas, ameixas e
tulipas.

A ti, te amo,
companheira minha,
dentro da sombra
do mar, na luz da 
aurora, no corpo
de metal enferrujado
das montanhas
chinesas.

A ti, te amo
e te amo, minha cigarrinha
japonesa!


                                 Adamantina, 26 de maio de 2016 

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Relembrando Neruda

Relembrando Neruda

E nas madrugadas frias
eu te lia, aprendendo
no vento, no ar, na chuva
tua voz de morno rio lento.

Porquê? Porque o
amor, Neruda, meu camarada,
jorra de poema em poema.
Pergunta-o aí, nesse oceano

de mortos; pergunta a Lorca,
a Rimbaud, a Góngora, a Cabral
o que a poesia
significa para a morte.

Não, Neruda, meu irmão
chileno: perdoa-me
porque sou falho;
perdoa-me porque
sou marinho
não terrestre.

Aqui mesmo nesse
falso litoral de cor verde
vejo a companhia
das tuas palavras
de metal.

Prometo lê-las na luz da tempestade... Prometo.

Valsa do amor


Como repetir 
o meu amor
em palavras
suaves, ó mariposa
azulada?

Durmo cedo 
para despertar
dentro do seu
amor azulado.

Como repetir
como a onda do
mar, que não 
me canso de
te amar?

Vem... Vamos
sonhar, porque
te amo e te amo,
e não me canso
nunca de te amar.

Silêncio

 
                                                - para Willy Lewin
Silêncio:
é o mar
que fala
em minha
voz.

Silêncio:
há luz e há
  trevas.
Não tenho
pressa: tenho
               sono.

Silêncio: no
sono há o
sonho em
forma de mar
de mar absurdo
e enfadonho.

Silêncio:
-sou eu
    quem 
    canta.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Haikai


Tomo uma surra
de versos... Quem
ganha é o leitor.

Pequena ode sobre o futuro da poesia


______________________________
Desde tempo imemoriáveis a poesia pede palavras;
eu 
amorosamente
as dou.
Eu coloco uma roupa na frieza amarga
da poesia.
Movo a cauda dela
sem vida por onde
quer que vou.
Na rua o jornal
da existência me
acena. As palavras
vão como rios...
Não sei o que farão no futuro
com as
minhas...

Mariposinha


...
Mariposinha, mariposinha...
coração de forminha...
Ai, pousa na janela
aquela mariposinha.

Tão bela na janela
a pequena mariposinha.
Qual o nome dela?
Não deve ser nada
sem asas no coração.
Mariposinha, mariposinha...
pousa no meu coração.
Ai, pousa na janela
mariposinha da minha
vida, que te amo de todo
o coração.

Queres me conhecer?


...
Queres me conhecer?
Com que sombra?
Deixai o céu azulado
porque eu sou azul
até a alma.
Porque queres
me conhecer?
Me queres não
me queres,
sou feito
como uma
pétala de flor
no campo.
Queres me conhecer?
Não, não queres...
Vivo a repetir o
mesmo verso
porque sou um
pelicano com
l.e.r nas asar.
Queres me conhecer?
Em que onda em que mar?
Em que olhar azulado?
Em que asa de mariposa
cinzenta? E que estrela
abandonada no infinito?
Vem... Conhece-me conhecendo-te a ti mesmo!

As flores artificias

As flores artificias 

Entrai em meu coração
para que vejam as pétalas
em forma de oceano.
Entrai...
Porque eu
não ouço
os sinos
nem a melancolia.
Entrai...
Entrai em meu coração
para que vejam as pétalas.
Vermelhas são,
escuras.
Perolas de mares
rasos.
Não são sonhos
são nuvens.
Entrai em meu coração.
Entrai...
Ele é metálico, é
elétrico como um raio.
Conduz a eletricidade
da paixão.
Entrai em meu coração.
Entrai...
Entrai em meu coração
para que vejam as pétalas
em forma de oceano.